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______BUÇACO______

TEXTOS ,SUBSÍDIOS, APOIO

______BUÇACO______

TEXTOS ,SUBSÍDIOS, APOIO

22
Fev17

DO LUSO AO BUÇACO


Peter

RSCN5113[1].JPG

Este buraco no muro é a principal entrada de peões dentro

da Mata Nacional do Buçaco  para quem vai do Luso.

Tem a duração de cinco anos e a fundação ou afundação

politica que toma conta deste património ainda não teve

dinheiro para compor esta porta. Este e muitos outros 

buracos existentes no mesmo muro que cerca o bosque

são obras da entrega dos bens do Estado a curiosos bem 

pagos pelos nossos bolsos de contribuintes...

RSCN5115[1].JPG

 Para ter uma ideia mais completa aqui está o mesmo

buraco visto pelo lado contrário, isto é, de quem desce por

um caminho abandonado pelo braço politico da Câmara da

Mealhada, a dita fundação ou talvez afundação.

RSCN5116[1].JPG

...e já agora muro e vereda na parte interior da Mata, antes da

mesma saída da Mata Nacional...o lixo faz parte do quotidiano

da paisagem, os caminhos são pedras ,raízes e buracos,

as escadas armadilhas...e ninguém imagina a gente que por

ali passa...

RSCN5112[1].JPG

Uma segunda entrada na Mata Nacional para quem vai do 

mesmo local, do Luso, é o velho Portão dos Passarinhos,

hoje mal identificado e fechado a cadeado para que os 

'selvagens' habitantes das termas do Luso não vão tirar

as árvores e a lenha que a fundação abate diariamente.

RSCN5111[1].JPG

Uma terceira porta , a Porta das Lapas, é a que vemos nesta

fotografia, em muito bom estado de conservação, sem portadas

sem vidros, sem janelas e de interior também excelente,

conforme a foto seguinte  que uma janela aberta por

esquecimento deixa  observar.

DSCN5107[1].JPG

 Como se vê qualidade indiscutivel, talvez a confirmar umas

declarações da Cãmara da Mealhada pela voz do seu 

presidente que resolveu  através duma entrevista despromover

o Luso e o Buçaco de  destino turistico . Não se sabe hoje o 

que são as termas ou a Mata nas mãos da autarquia,talvez

lixo no  entanto, segundo as contas  da mesma, entregou no

ano passado ao seu braço político, a Fundação, duzentos e

cinquenta mil euros. Como a transparência dessa politica

foi recentemente classificada em 48% de clareza, o destino

dessa verba terá ficado nos 52% de intransparência, tal

como os centavos litros de água que vão das águas do 

Luso. Não é matéria liquida se estas transferências de

dinheiros públicos  são legais, um dia se verá...

DSCN5094[1].JPG

Para terminar e porque fica perto da primeira entrada 

a partir das termas do Luso, deixo uma imagem  do teatro

avenida hoje, depois de cair sobre a plateia e alguns

antigos camarotes, mais um pedaço do telhado.

Sinceramente, não sei para que elegemos uns políticos

nesta freguesia e neste concelho que parece entrarem

e sairem calados do areopago municipal. Acho que lhes

pagamos alguma coisa para defesa da terra e discussão

dos seus problemas , mas nada!!

 

02
Fev17

ALICE


Peter

  ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

 028.JPG

Caro Presidente, estamos a chegar ao fim de um mandato a zeros. Zero de dívidas, zero de obras, zero de ideias, zero de crescimento. A meu ver, melhor seria dever o que se pode pagar com respeito pelas regras estabelecidas e ter feito alguma coisa. A gestão moderna não se faz sem o recurso ao crédito e a não utilização dessa ferramenta fundamental é mais passível de críticas que de elogios. Teria sido melhor para o território, melhor para o município, melhor para o emprego, melhor para o bem-estar, melhor para as pessoas aproveitar a realidade sem a patetice da dívida! Mas isso não aconteceu, o que de facto aconteceu foi o estagnar do concelho em edis a tempo inteiro, não sabemos quantos assessores e mais uns avençados que a pouca transparência política não deixa perceber. Uma hierarquia tão grande vista pela vez primeira no executivo da Mealhada para fazer zero, é muito mau, e assim se desperdiça o mandato em coisa nenhuma.

Este não é o caminho certo, caro Presidente. Pode ser a via da clientela que a partidarite quer ou a oportuna via que os votos anunciam, mas não é o caminho correcto para num concelho pequeno, carente e acrítico que precisa, ou precisava, dum executivo inteligente e activo e duma estratégia viva e ousada para visionar e empurrar um futuro. Tive a ousadia de pensar isso acreditando que a experiência adquirida lhe tivesse trazido confiança e iniciativa, hoje não ficaria bem comigo próprio nem perante os leitores se não corrigisse nestes maus resultados as previsões iniciais totalmente furadas.

O zero verificado é o fruto maduro duma acomodação politica não prevista nos dados da balança, um erro meu, não via então este concelho na paz podre em que vive quatro anos volvidos. Parado, inerte, incapaz, ancorado em fanfarronices balofas, com uma frota politica á espera do emprego numa terceira ou quarta volta mesmo sem o crédito duma carta de alforria. Digerindo azedas maravilhas de jantares politiqueiros, propagandas gratuitas, festinhas, futebóis e crismas de paróquia e zero de trabalho. Trabalho árduo não houve, medidas inteligentes também não, mal andariam os empresários se estivessem á espera do demagógico acto da política para fazer os negócios da venda do vinho e do leitão, já que a história da água é outra coisa e o pão, viste-o! Mas é tudo uma farsa da política assente na ruina dum passado comum que não diz nada, que não merece respeito nem continuação para ocupantes da conjuntural cadeira do poder.

As velhas estratégias que aguardam há duas décadas execução, um golfe, o nó rodoferroviário, os parques industriais de Barcouço e de Barrô, além desse pomposo Luso 2007, foram substituídos pela compra de lixo imobiliário onde a autarquia se especializa na criação de ratos e, na área de maior potencialidade do concelho, o Turismo, voltamos cem anos atrás com o arremedo de termas que hoje existe, mil e tal quartos a menos e outros disparates em que o município se envolveu na defesa do poder económico do capital que ironicamente nem temos, esquecendo os verdadeiros interesses das populações, dos empresários e investidores, bem como a herança de duas centenas de anos que recebemos de mão beijada. A gestão da última década, caro presidente, foi o desastre que está á vista. Nada acrescentou ao todo municipal, manteve apagado o fogo em todas as freguesias e continuou a tarefa de destruir irresponsavelmente a hotelaria e o turismo que tinham notório peso dentro dos nossos limites e mantinham postos de trabalho na freguesia termal, na qual está hoje claramente evidente o especial zelo político na sua liquidação e a total incapacidade para a defender. O contrário do que fazem todos os municípios por Portugal além! Porquê, pergunta-se? Querem transferir a freguesia  para onde?

Uma catástrofe abalizada por autarcas incapacitados ou intencionais? Os resultados á vista  são absolutamente contrários  aos interesses do território que ocupamos !

Talvez por não ser natural do concelho lhe falte o saber acumulado ao longo dos anos em muitas das pessoas que daqui são, que aqui moram ou daqui se espalharam mundo fora com a universidade da vida no bolso curricular, o trabalho, o saber e a necessidade de sobreviver nos alforges de famílias inteiras. Podíamos fazer um rol de gente daqui e de concelhos vizinhos, mas de nada valeria, nunca os conheceu, não os conhece, não são propriamente a sua história e muito menos a sua alma. Porém sem erros aritméticos eu refiro-lhe de forma concreta que neste município existiram mais de mil e quinhentas camas de hotelaria, freguesia do Luso incluída, e hoje, incluído o seu tempo de autarca no activo, destruíram-se, e não existirão mais que duzentos ou trezentos contando com as camas casuais ou camas de horas. Esta realidade, que naturalmente não lhe pesa, espelha a diferença que existe entre quem viveu a história, participou da história e aprendeu na história e quem pouco sabe sobre o que se passa á sua volta, particularmente nesse mundo relativamente recente e rico, a que damos o nome de turismo.

Nesta matéria, o que a política da Câmara tem andado a fazer são asneiras, tão ocas e tão vazias como os almoços leitoeiros das maravilhas onde pretensiosamente pretende meter o Buçaco como se o Buçaco fosse mais uma maravilha da mesa e dos banquetes. Além de não se comer nem beber, noutros tempos apenas os burros o faziam, o Buçaco é conhecido em todo o mundo há muito tempo e não é a Mealhada das maravilhas que o vai colocar no mapa mas exactamente o contrário caro Presidente. O Buçaco e as Termas sempre deram notoriedade ao município e são ainda hoje a sua potencial riqueza maior e o seu único destino conhecido além desse repasto a que se chama leitão. O meu caro amigo não entendeu ainda estas coisas comezinhas! Se o entendesse não fazia da Mata Nacional a barraca de farturas que anda a fomentar, zelava pela recuperação das termas, da fisioterapia, não gastava o dinheiro dos munícipes naquilo que não lhes pertence. Que o dinheiro não é seu , é de todos nós , deve-o  gastar bem, essa é a sua função, para isso foi eleito, para isso o escolhemos, não para se empinar numa política de saltos altos. Antes de cá chegar, muita gente do concelho fez este património comum que agora o caro presidente ajuda a destruir, ou não o defende, como era sua obrigação enquanto edil.

Depois o Buçaco é um templo, um templo botânico. Num templo há silêncio, adoração, paz e tranquilidade. É para admirar, usufruir, para amar e reflectir, é um lugar sagrado que merece o respeito. Como uma igreja é um local de culto, o Buçaco também o é, de culto e oração e de libertação !  Para arraiais chegou sempre a Ascensão, de resto, dispensa pisoteio, vendilhões de praça pública e promotores de negócios para lhes venderem corpo e alma transformando-o numa feira de vaidades. Deixemos as bacoquices, o empirismo, a senilidade política Se queremos estar dentro da cidade temos de falar e agir com a cidadania da urbe, com a clareza da palavra e da verdade, doutro modo nunca passaremos da aldeia que desejamos.

Depois, não vivemos no país de Alice, ninguém tira coelhos de cartola nem temos poços de petróleo, não somos árabes, sabe perfeitamente que nunca haverá dinheiro suficiente na autarquia para recuperar e manter a Cerca Buçaquina ou fazer a candidatura a património Unesco. Esta será apenas a sua presunção e dum partido que só existe na Mealhada de quatro em quatro anos, quando for necessário meter os votos na urna para escolher um amo já escolhido. Este ano parece que nem é preciso, a ditadura manda! Caminhos duma democracia afunilada nos pântanos deste país de sol! Mesmo assim, hão-de chegar ao Luso, transportar os amigos á sede do concelho frente á boca da urna. Como a política não tem vergonha, esquecem nessa altura que em quatro anos fizeram nas termas uma retrete pública, se entretanto acabarem a obra! Assim não vamos lá,  meu caro presidente!

Luso,Janeiro,2017

 

07
Set16

DESTRUIÇÃO DO BUÇACO


Peter

 

RSCN4704[2].JPG

 O Portão dos Passarinhos uma velha entrada da Mata

Nacional do Buçaco com um portão fundido em Lisboa

há dois séculos. O embude é para não se poder entrar

e ver a miséria dum interior abandonado á incúria e

irresponsabilidade duma afundação.

DSCN4691[1].JPG

Esta outra porta , chamada do Luso  porque dá acesso a

partir da vila, ruiu há uns anos largos e a mesma

afundação não teve dinheiro para a reconstruir , portais

muros e degraus incluidos. Então, retirou o esterco e fez

o esterqueiro  turistico que mostra a foto.

O Buçaco passa por uma gestão  de irresponsabilidade

total perante um património nacional  de valia 

turistica e económica.

 

09
Abr16

AURORA


Peter

madrugada.jpg

Palácio do Buçaco, nascer do sol ,esta semana.

Destruida pelas intempéries e pelo homem, esta

Mata Nacional precisa do Estado para ser recuperada

como o foi Sintra. Não se  percebem as políticas

nacionais, benéficas nuns casos, talvez criminosas,

noutros casos. Se a riqueza patrimonial construida e

paisagistica é superior em Sintra, ela é também

superior no Buçaco em matéria  florestal.

 

 

 

 

18
Mar16

PORTA DE SULA


Peter

sula3.jpg

 Das mais antigas Portas do Cenóbio Carmelita

 esta   entrada deve o seu nome á proximidade

da aldeia de Sula e dava acesso ao Convento  do

lado nascente , em contraste com as Portas de

Coimbra do lado poente da Cerca.

Durante a batalha do Bussaco os muros laterais

foram rasgados até ao meio a fim de permitir uma

melhor defesa   e na esplanada á sua frente foi

construída uma paliçada com  troncos de carvalho

mais um obstáculo á arremetida dos  franceses que

chegando perto do local não conseguiram no

entanto ultrapassar esta barreira.

Em 1875 a Porta foi restaurada , mas nos   dias de

hoje o seu estado de  abandono  dá lugar ao

despreendimento e queda  dos embrechados de

pedra negra e branca  das fachadas exteriores.

Subindo a serra a partir deste local vamos 

encontrar no planalto a antiga Porta do Telegrafo

e depois a moderna Porta da Cruz Alta. Em sentido

contrario, descendo junto ao muro, chegamos

á Porta da Rainha e depois á Porta do Serpa.

 

 

 

09
Abr14

1755-TERRAMOTO NO BUÇACO


Peter

 

 

 RELATÓRIO DO CURA DA FREGUESIA 

 

Em 20 de Abril de 1756, João Simões, cura da freguesia do Luso, é incumbido pelo bispado de Coimbra de fazer as indagações indispensáveis que o habilitem a responder ao inquérito que o secretário do reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, fazer sobre o sismo de 1755 e suas consequências em todo o lugar do reino.

Diz o cura que, no primeiro de Novembro, pela manhã, nove horas dadas, houve um terramoto percebido em toda a freguesia. Durou oito minutos e da igreja ‘se viram estremecer as cintas de ferro’, tendo caído alguns caliços de pouca monta.
Os fiéis que se encontravam naquela altura dentro de templo, saíram para a rua, concretamente para o adro.

Relata depois que não morreu pessoa nem se arruinou edifício, nem houve falta de mantimentos, mas que no ar se viu um sinal ‘que alguns dizem que era parte em que anda a estrela do norte’. Era ‘vermelho, redondo e grande’.

Mas na fonte da freguesia, diz o cura, ‘uma das mais famosas fontes deste reino’ na altura do sismo, metade da água ficou ‘turva e de cor quase preta’ e a outra metade branca, ‘como leite’, não tendo presenciado alteração alguma na nascente.
Moravam então 648 pessoas na área da freguesia, das quais 345 eram mulheres e ocupavam 194 fogos.

O mesmo cura relata o sucedido no Buçaco, deste modo:

Acha-se no coração desta freguesia aquele sempre venerável Santuário do Buçaco, relíquia que faz ser esta freguesia a mais venturosa de todas as do reino.

Ás mesmas horas padeceram aqueles Santos Religiosos o mesmo terramoto com maior ímpeto que em toda a freguesia; desampararam muitos o Convento e se recolheram para aMata, os que estavam nas capelas vinham vindo para o Convento, e outros, que eram os menos, esperaram dentro pelo fim daquele sucesso querendo acabar a vida pela vontade de Deus...’

Sendo aquele Santuário de uma deliciosa formosura...e assombro aos que o vêem, e ainda a sua notícia serve de pasmo ao subido engenho e excelente discurso, ainda quis o mesmo Deus mostrar quanto são dignos dos louvores com que o adoram aqueles Santos Religiosos, pois foi tão grande o terramoto naquele.Convento que por três vezes distintas se repicaram os sinos por si e foi vista a admirável e devotíssima imagem de Cristo que está no trono acima do altar mor, inclinar para o chão dois palmos.
E com tão grande tremor não se viu naquela Igreja e Convento o mínimo abalo em todo o edifício.

 E mais não disse…

 

01
Set11

SE O PETROLEO DER À COSTA…


Peter

 

   Num trágico verão pleno de interrogações e crises também o mar e a praia não têm proporcionado aos seus utentes a normalidade sustentada do costume e o vento que empurra areias e as areias que fustigam a pele, têm sido os adversários principais de quem procura os raios de sol para torrar sob ele.

    Apesar disso um barco, melhor dizendo, uma nave de sofisticada tecnologia, faz na nossa frente, isto é, frente ao hipotético utilizador do banho no Oceano Atlântico, um trabalho de pesquisa intensiva sobre as camadas inferiores dos fundos marítimos procurando detectar jazidas de petróleo.

     Isto é o que lê o eventual banhista, como eu, já instalado sob o lençol de areia acima dum lençol de algodão comprado como puro a cem por cento e olhando o mar, enquanto se defende como pode das picadas da mesma areia que surge em reboliço a cada sopro mais afoito da ventania. Mais difícil ler a notícia dita acima no jornal aberto que, não sendo bem seguro, pode a qualquer momento voar e desaparecer sem que a correria consequente o consiga recuperar.

  Por enquanto diz o jornal que uma empresa canadiana pesquisa o ouro negro e que tem algumas, não afirmam que são muitas, hipóteses de o encontrar em quantidade e qualidade suficientes para uma exploração normal, isto é, rentável.

  Se assim fosse, penso á priori  e enquanto utilizador da liberdade das areias , talvez fosse algo de vantajoso para este país, não teríamos de o pagar a cem por cento como acontece agora, depois de termos passado pela rara oportunidade de o termos  encontrado em Santo António do Zaire , mas sem o engenho e arte para o poder descobrir e transformar em bombas de gasolina, urge agora quer alguém o procure por nós entre Mira , Tocha, Quiaios Figueira e Nazaré.

Talvez esse outro ouro angolano, a ter sido encontrado, fosse hoje uma empresa tipo galp , edp, tap , cp e outras mais, isto se o tivéssemos conseguido sustentar nas nossas mãos económicas safando-o á sua total entrega aos grupos da libertação. Seria no mínimo, o chorudo sustento de alguns administradores nomeados, juntamente com boas luvas e bons carros, telemóveis, viagens pagas, cartões de crédito, férias em Portofino ou nas Sheicelles, recompensa pelo suor e lágrimas de seus abnegados sacrifícios, além de famílias bem cotadas no aparelho subjacente. Este benefício para o cidadão nacional existiria neste mínimo, não duvido, outro tanto não sei quanto ao seu teor alagadiço, isto é, ao seu escorregar ao encontro do cidadão nacional, no seu todo, que é o que faz a nação.

Na nova busca, se as pesquisas tiverem êxito, duvido dos benefícios deste ouro preto e liquido para o país, pois sabemos que do ouro verdadeiro, amarelo e grátis que enchia caravelas e naus tempos depois do achamento e exploração do Brasil, nada se veio a beneficiar, excepto as enormes pedras de Mafra, alguns altares de talha dourada do mesmo e de alguns mais conventos e igrejas onde se regalam santos, e a pomposidade de reis ocos e bacocos que tiveram os habitantes deste reino sempre na conta de burros e ignorantes e portanto merecedores de grilhetas e arreios para que se não levantassem, por dever da submissão, do chão que lhes pertence.

 O ouro verdadeiro, amarelo como leitão saído dum forno a lenha, foi consumido pela importante elite da fidalguia e seus clientes, não sei se naquele tempo já existia o termo elite, se não, existiam as personagens e fará o leitor o favor de imaginar o que quero dizer com ele, certo é que o país ou o reino viu passar o ouro por um canudo, qualquer coisa como ver Braga pelo mesmíssimo instrumento nos nossos tempos modernos.

Por aqui se vê que a história não foi pródiga em cabeças, nem em solidariedades, nem em bem comum e acreditar hoje em coisa diversa perante a eventualidade de uns jactos de grude cuspidos do mar sem fim seria pura estultícia.

Olho o barco puxando cabos e cabos e imagino olhos robotizados a mapear os fundos. O petróleo não cheira, comprimido na fossilidade da sua condição. E peço para que não surja repentinamente como qualquer magia, sem tempo para fugir da praia que poderá poluir quando a grude saltar no ar ou regressar á água que a trará á costa.

Mesmo assim, alimentando temores desta natureza, deixo-me adormecer sossegado neste areal quase selvagem num intervalo do vento. Olho, talvez em sonho, não o distingo bem, e vejo a silhueta do cabo Mondego entrando pelo mar, ora diluída numa espécie de névoa esbranquiçada ora fustigada pelo soprar dos elementos na secura do ar. O barco sofisticado avança com lentidão, praticamente parou á frente do cabo, é uma espécie de ponteiro de relógio que anda constantemente sem se perceber caminhar. De certeza que a sonhar, transformei o barco em poço de petróleo. Primeiro um, depois um segundo, um terceiro e por aí fora até tudo se transformar numa floresta de torres brotando ardilosamente de sucessivos poços e nós banhistas continuando a banhar-nos no areal comprido, alguns saltando para a água dos ferros retorcidos das estruturas, outros fugindo á violência dos raios de sol encostando-se nas sombras das colunas, outros mesmo ensaboando o corpo na oleosidade do grude que ás vezes dá á costa.

Já não há cais nem barcos no outro lado, na cidade da Figueira e da Foz, e muito menos pesca e o barco sofisticado e tecnológico, cada vez mais lento, indica minuto a minuto um novo poço de matéria-prima. Surgem no horizonte outros barcos cada vez mais tecnológicos de sofisticação e o sonho transforma-se automaticamente no pesadelo que me acorda. Olho o relógio. A tarde avançou na hora que dormi. Por curiosidade observo o mar á minha frente. O espaço-tempo é o mesmo. A calmaria mantém-se, os cabos flutuam e desaparecem nas águas, o barco avançou alguns metros na sua prospecção. O sol mantém-se em explosão no seu núcleo atómico e vai começar a sua aparente descida até ao limite da curvatura terrestre sem abrandar os motores. É privilégio seu, não de aviões nem de vaivém a desnecessidade de travão para embater na terra.

Volto ao rei magnânimo e ás pedras do convento que mandou fazer. Um rei utópico e pedante. Como eu conheço bem algumas delas! Aparelhadas, custaram-nos fortunas a ouro de lei e hoje não valem nada.

Oxalá encontrem petróleo em abundância, oxalá não acabe a busca em águas de bacalhau como na malograda peça teatral do saudoso Solnado, há petróleo no Beato, devem lembrar-se, pois Portugal bem precisa duma ajuda substancial para sair da crónica crise duma existência difícil. Não para construir palácios e alimentar elites, nem aturar sábios comentadores que nascem por todo o lado a debitar palpites como tartulheira na serra, pelos vistos também a preços de ouro, mas para se desenvolver e criar riqueza para que este povo se livre um dia da crónica corda que traz pendurada ao pescoço á espera que lhe apertem a garganta.

Acredito que seja uma herança telúrica do grande Egas Moniz, mas já tem cota de herói suficiente para nos livrar definitivamente desse peso.

Mesmo assim e porque sou pessimista, custa-me a crer que se vier a ser encontrado o abastado filão, o povo beneficie alguma coisa com a riqueza que trás consigo. Entre gestores, políticos, clientelas e esclarecidas elites, se há-de consumir o produto e adiar mais uma vez o desenvolvimento para todos.

Oxalá me engane neste papel de vidente que entretanto vou aproveitando o ar puro o sol e as areias da praia para sonhar. Não com o ouro da Mina que já lá vai, mas com este ouro oleoso que é mais um deus dos nossos dias correntes.

Praia da Tocha, Agosto, 2011

 

  

27
Jul11

BUÇACO;UMA FLORESTA NEGRA


Peter

 


 


 

A floresta faz parte da despedida. Talvez seja até a despedida a fazer parte da floresta. Há uma certa empatia entre uma coisa e outra, entre o berço onde se nasce e o berço onde se morre, entre os aromas da infância e perfumes das tardes nas horas crepusculares. Por isso se me abre o apetite de deambular improvisamente entre as veredas das árvores, ou as árvores das veredas, trocando os termos acho que o conteúdo acaba por ser o mesmo, pelo menos aquele que verificamos dentro de nós. E constata-se que também os bosques tem manhãs radiosas, manhãs menos radiosas, horas crepusculares e outras coisas mais que podemos viver e saborear nas deambulações de crentes e amantes da natureza lar. E morrem, tanto por descuido do homem, como pela infestação viral ou por um acidental incêndio provocado pela própria natureza mãe. Claro que isto não é novidade nenhuma, a matéria é tal e qual como a vemos, não é outra coisa senão a realidade da nossa própria visão e caso se dê o caso da nossa visão ser uma visão errada, ou insuficiente, podemos não ter acesso a toda a realidade. É sabido que não temos acesso directo a imagens de raios x ou raios gama ou a ondas de rádio e no entanto elas existem. Um daltónico não tem acesso á cor, e ela aparece aos outros com gama de cores que nem a paleta dum pintor consegue reunir.

Subi assim ao Buçaco para simplificar ,há por aí quem o faça diariamente, não é o meu caso, e sempre que o faço venho mal contente com o estado da Mata. Entristecido. Entristecido com o amadorismo e inconsciência posto pela chamada fundação, a que galhardamente chamo afundação , no tratamento daquele espaço. Conheço-o á tantos anos como aqueles que tenho e a verdade dolorosa é que nada ganhou com a gestão pseudo camarária em que está metida ou afundada.

Parece haver ali um regimento de gestores ou mangas de alpaca e nenhum jardineiro, como aliás parece suceder com as forças da policia nacional, onde noventa coronéis não conseguem pôr ordem num pequeno país quase diariamente assaltado por explosões no multibanco, quer na via pública quer em instalações apropriadas, conforme recentes notícias da imprensa.

Uma herança de Sócrates? Não só. Este país é assim, precisamos de comandantes, de generais, de administradores, de políticos profissionais, de heróis, de santos e claro, de oportunistas. Afinal de quem comande para nada se comandar. Basta existir o posto, a ideia, o lugar, o benefício, o soldo? É quase a realidade, eu diria que é a própria alma lusa, coisa vinda dum passado de improvisados fidalgos, morgados e capatazes, uma hierarquia conservadora e obscura e a fatalidade sempre a abater-se sobre quem endireita o dorso e põe a massa a pensar. Leiam a História!

Tanto dá para manter a ordem na desordem como para levar a pátria ao lixo nas avaliações actuais, ainda que os avaliadores sejam igualmente lixo, avaliadores que avaliaram o lixo das sub primes como lixo de valor e avaliam os palermas dos países que lhes pagam como o rasca e mafioso lixo que inunda de vez em quando a cidade de Nápoles, a ponto de lhe fazer interromper o trânsito por semanas. Mas isto é obra de legisladores e políticos, não é obra do cidadão não doutorado em inócua sapiência.

Vem a propósito aquela história pertinente dos trabalhadores autárquicos de quem se diz pouco fazerem. Nunca chegaremos a saber se quem o diz é mais sério e diligente, mas como reza por aí o anedotário português, quando rebenta um cano de água são três ou quadro funcionários em volta do buraco observando o único que trabalha de pá e pica na mão! O mal, se existe mal no basismo desta cultura, vem de cima, de quem gere e ganha rios de dinheiro para dirigir. Se não dirige, como pode exigir que quem não ganha para comer não se escape igualmente aos seus deveres?

Também o quadro de pessoal da dita afundação , como muitas outras que por aí há (e não sei se mandam embora os funcionários públicos antes de acabarem com estes  compadres !) terá mais mangas-de-alpaca que jardineiros, supõe-se mesmo que jardineiros não tenha nenhum, a não ser que os presidiários tenham tirado entretanto algum curso simplex e já tenham diploma.

Neste faz de conta de oportunismo deficitário se afundam estas fundações apadrinhadas por partidos e entregues á total incompetência e falta de bom senso, já não digo sentido de estado, de grande parte dos eleitos, a quem se atribui tantas vezes, como último recurso das incapacidades, a boa vontade e ser um ‘gajo’ porreiro. Porreiramente se tapam uns aos outros como se fossem um bando organizado, não de ocasionais e conscientes defensores do bem comum, mas de incessantes polícias de costumes e controle do hipotético futuro dos votos. É um ciclo vicioso que alastrou na democracia á portuguesa!

Os reclusos terão já o seu posto de jardineiros, não se sabe, mas mesmo assim, tirando os locais de passagem obrigatória mais ou menos limpos, tudo o resto deixa muito a desejar. Para não falar da serra onde os azevinheiros, segundo recente notícia da Querqus , foi e continua a ser delapidado sem apuramento de responsabilidades.

Parece que o adjudicatário do corte das árvores será o culpado, a gestão afundadora, essa, politicamente correcta, não terá nada a ver com o assunto.

Bom, também já estamos habituados. No processo das sucatas só há um bode expiatório á espera de julgamento, o sucateiro. O resto, são um purgatório de almas ingénuas e santas. Ámen!

Julho, 2011.FS


03
Fev11

CINE TEATRO AVENIDA


Peter

 

 

Foi nas vésperas do Natal que arranjei um espaço da tarde para ir ao cinema ao centro comercial, pouco há de fitas noutros locais deste país arregimentado sobre o monopólio político da união europeia e o monopólio cinematográfico de Hollywood. Noutros tempos ainda restava alguma liberdade de escolha e alguma identidade própria a esta boa gente da Lusitânia, para o fazer, hoje está tudo hipotecado, quer em ideias quer em obras, quer em dinheiro, a um mundo que é estranho ao nosso cerne mais intimo, coisa que também não se percebe muito bem o que seja.
Eram seis da tarde, comprei o bilhete junto com umas pipocas importadas na febre do consumismo desesperado onde vegeta o mundo e entrei numa das muitas salas, aquela onde se ia projectar a fita. Um paralelepípedo, mais ângulo menos ângulo, com um anfiteatro e umas escadas por onde subir. A meio do percurso estava sentada uma irmã religiosa com um hábito que me pareceu azul, ao lado duma senhora civil, digamos assim para abreviar a questão, únicas clientes preparadas para presenciar a sessão.
É normal, já tenho estado sozinho e sinto-me mal, ás vezes desisto mesmo por falta daquele ambiente acolhedor que tinham as velhas salas do Teatro Avenida, do Tivoli, do Sousa Bastos, no caso de Coimbra, mas retenho perfeitamente o S. Jorge, o Tivoli, o Monumental , o Politeama, o Restelo , entre outros, na Lisboa da década de sessenta e quando a ida ao cinema se fazia com encanto e uma certa cerimónia. Então na reciprocidade duma agradável companhia, era das coisas máximas que podiam acontecer.
Quando subi os degraus a irmã sorriu-me e cumprimentou-me, eu respondi ao seu aceno e sentei-me três ou quatro filas atrás. No silêncio que antecedia a obra atirei-me ao pacote das pipocas e substitui-o, a ele silêncio, pelo mastigar de roedor, mas entretanto entrou outra senhora, não irmã, não vestia hábito ou costume, e foi sentar-se umas filas atrás de mim. Éramos quatro á espera do início da sessão distribuídos em três grupos, admitindo, ainda que erradamente, cada espaça fazer um grupo. Estava portanto no grupo do meio, o das pipocas. Ou dos roedores.
Ora aconteceu que a sessão começou e esteve seguramente um quarto de hora sem haver imagens. Bem pregavam os anunciadores dos produtos que nos entravam no ouvido, mas imagens nada. Arrumei as pipocas no banco do lado, comentei com a irmã que algo estava errado e fui á bilheteira pedir que colocassem os bonecos, ao menos no filme, já que agora estamos sujeitos a meia hora de anúncios com a curiosidade de pagarmos para os ver ainda que não queiramos, como acontece comigo.
Cinco minutos depois, alguém situado no vazio do outro lado dos buracos da projecção, colocou a geringonça digital a funcionar e começou o filme. Tratava-se, como dizia o critico que me levou lá, dum belo filme francês, Dos Homens e dos Deuses, uma história equilibrada entre guerra e paz, vencedor do festival de Cannes, afinal uma excepção á regra  do monopolismo estado unidense da exibição em Portugal. No título e no guião, uma comunidade monacal do alto Atlas, a justificar a presença da religiosa que me cumprimentou tão simpaticamente. 
Voltei satisfeito por ter ido ver o que devia ser visto, ver o que me agradou, mas logo que cheguei á minha pacata vila, cada vez mais pobre , patética e pacata e dei de caras com o cinema que existiu noutros tempos e hoje é uma ruína, fiquei saudoso e  deveras desagradado com a entidade que o comprou, a câmara municipal, que o fez em nossa representação, isto é, com o nosso dinheiro e não deu um passo ainda pela sua reconstrução. Não deu nem vai dar, porque segundo me apercebo não consta do plano de actividades do ano que vai entrar uma verba senão para ter aberta a rubrica, um euro, um faz de conta que já conheço de ginjeira, já estamos habituados a ele, apesar da nossa terra proporcionar ao município uma receita anual de noventa a cem mil contos de mão beijada, uma importância de águas que câmaras anteriores conseguiram obter mas que a minha terra viu, e vê, por um óculo. Estranhamente, não se escuta um grito de protesto pela voz dos eleitos locais. É fácil perceber porquê.
Um edil da terra, ao contrário do que eu pensava, não adianta nada e assim, para dizer ámen e embatucar na importância não faz falta nenhuma. Sempre pensei e até manifestei em publico o pensamento de que era necessário, como continuo a pensar, que sempre seria melhor que nada, ter na autarquia um bom representante. A coisa não é bem assim, um yes man não faz falta em lado nenhum e nesta matéria o Luso é um muro de Jerusalém sem lamentações!
Passei com estes raciocínios pelo velho Teatro Avenida da minha infância tal qual como passo ás vezes pelo verão que enchia de fitas as semanas e os sábados de bailes. O cinema do Luso não tem história porque ninguém a escreveu, ninguém teve a curiosidade de guardar uns papeis velhos nas gavetas do tempo para lha construir, mas tem-na igual ou maior que muitas outras casas de província e como muitas estâncias termais, no tempo em que as termas se faziam e funcionavam com a dimensão das pequenas cidades em que se transformavam os lugares. Bem diferente dos tempos actuais que correm propícios á destruição e ao roubo e se baseiam na irresponsabilidade absoluta.
Por ali passou o grande Alves da Cunha, o grande António Silva, a grande Maria Matos.
A Maria Matos que esteve para levar para o Parque Mayer o meu segundo primo, o Álvaro, um grande artista cómico das revistas locais que a encantou em duas ou três rábulas de representação. Seu pai e meu tio-avô Ernesto, não permitiram a transferência e assim se fez gorar a oportunidade, para ele, filho, de vir a ser um artista nacional.
Se tivesse história escrita, este cinema, modesto em comodidades mas com uma arquitectura comum a muitas outras salas pelo país, seria grande na dimensão da minha terra, pois por ali passaram muitas das encenações locais que se fizeram durante dezenas de anos, até á altura em que a televisão destruiu implacavelmente o associativismo e a vida social de então.
Hoje há quem me peça para escrever sobre a sala de espectáculos. Estou muito longe de ser um José Hermano Saraiva, mas estes pedidos denunciam de facto que não há ninguém que defenda o património das termas, que os eleitos não estão á altura dos acontecimentos, que os problemas não são discutidos e muito menos resolvidos.
Que não há na vila uma sala para cinema, para teatro, para ensaios, para reuniões, para congressos! É verdade. Também lamento que ainda há pouco tempo um congresso sobre a Batalha do Bussaco fosse feito no teatro vizinho. Mas lamento igualmente que levem o pouco património existente, como livros, peças de mobiliário, medalhas e outras coisas mais que são parte da nossa essência, da nossa matriz, da nossa alma, para os arquivos da Mealhada. Um povo sem alma é o pior que há. Como lamento os disparates que se fazem no trânsito, a insensibilidade para os problemas do estacionamento, a vergonhosa situação da avenida do Castanheiro, a leviandade com que se deixam reduzir as termas a um terço do que eram, matando-as. A irresponsabilidade com que se ajudam a destruir as unidades hoteleiras em vez de as ajudar a viver, e o amadorismo curioso com que é tratada em família a Mata do Buçaco.
Mas que fazem os eleitos locais pela defesa da minha e nossa terra??? E quem foi que os lá colocou ?
Quem me pede para escrever, pergunte-lhes. Há que exercer esse direito de cidadania, igual para todos, como o acto de votar. Por mim, estou farto de escrever! Hei-de ser sempre o mau da fita???
Luso, Dezembro,2010                                            Buçaco.blogs.sapo.pt

03
Dez10

BUDAPESTE


Peter

 

BUDAPESTE, UMA CRÓNICA DE JORNAL

 

Se bem se lembram os leitores que fazem o favor de me ler estas croniquetas desinibidas, foi em Agosto de 2009 que escrevi o episódio do salame gigante de Buda e Peste, saboreado no bar de tavolla freda ao fundo do apartamento, 109 da Via Betollo, na cidade de Génova. E lembram-se que prometi pagar a divida e representar ao mesmo tempo a gastronomia deste nosso país da beira mar atlântica, levando um avinhado salpicão da beira á numerosa tertúlia do crepúsculo, dizia, gente do quartiere que se junta ali ao fim da tarde para chiachierare sobre tudo e sobre todos.

Foi um ano depois, em Agosto de 2010 que cumpri o prometido, e esmerado como pretendo ser nestas representações, levei meia dúzia de salpicões caseiros do talho de Penacova, um naco de presunto que me trouxe de Chaves o novo genro e outra meia dúzia de alheiras de Mirandela que só de as observar faziam crescer água na boca. Tudo emalado num saco hermeticamente fechado, foi o Verão a época escolhida, pela simples razão de me deslocar em viatura e fugir assim ao controle dos aeroportos, não me admiraria que me abrissem a mala de porão e me controlassem o tesouro para boca de saco alheio. E para levar meia dúzia garrafas de vinho branco bical da Adega da Mealhada para o dar a saborear àquela gente de lá.

No bar já não servia a ragazza da Antonella, a Paola, mas Giovana , uma mulher feita que tomou o bar de trespasse e o administra com a sua própria presença. Trinta e poucos anos, face bonita, corpo bem feito, divorciada, dois filhos, um rapazinho no último ano do básico e uma menina mais crescida com a cara, dizem, da Maria Madalena de Da Vinci, num corpo quase feito de mulher.

Simpática e profissional a tirar da máquina do café um cheio de se lhe tirar o chapéu, quente e saboroso como é de minha feição e gosto. Foi a primeira coisa que fiz quando cheguei, elogiar o café que fez o favor de me servir na pequena esplanada do lado de fora do bar. Grazzie mille, respondeu!

E comecei a ler o jornal ,o Século XIX.

Ao fim da tarde não falhou a tertúlia. Cumprimentos para aqui e para acolá, a saúde, a vida, Portugal, Berlusconni, o genoa, a samp, enfim uma panóplia de assuntos que decorrem dum novo encontro, embora não fosse assim tão distante a precedente partida. E uma garrafa de Asti, um espumante adocicado que me não enche as medidas selou a reentrada entre os tertulianos.

-Salvé professore Giusephe Borgogni  ! Hip! Hip!

E assim se mandou chamar a Teresa do Marinella, decana do gourmet e ex patroa do restaurante da passiegiatta Anita Garibaldi que se debruça sobre o mar Ligure. Demorou a chegar nos seus noventa e tal anos de idade, mas depois de se evocar em conjunto o salame do ano anterior, serviu-nos uma respeitável dissertação sobre o próprio e sobre Budapeste, onde se fabrica, na beira do Danúbio e entre as três cidades unidas de Buda, Peste e Obuda. Confesso que nunca fui a Budapeste, mas fiquei a conhecer a cidade como se lá tivesse estado, das estreitas ruas de Peste á ponte Elisabeth, ao Castelo Real, á Opera, á Basílica de Stº Estêvão, ao Palacio da Imperatriz ou á Praça Liszt onde se pode comer uma sopa de goulash, uma deliciosa panqueca ou saborear queijos, salames e salsichas, tudo aliás do tamanho da própria urbe, a sexta, em extensão, na Europa.

Acreditei então que a virtualidade se pode transformar facilmente em coisa real, como aliás já vinha desconfiando desde que a net é net e arranjamos conhecimentos, amizades e até amores em qualquer parte do mundo e nos afeiçoamos a eles criando laços como se estivéssemos em boa verdade presentes. Às vezes, falta apenas o pequeno periférico, um ship transportador de partículas que não existe ainda, para tocar no outro, beijar, abraçar ou apalpar. Assim fiquei a conhecer Budapeste, lá onde morou a Sissi de Romy Schneider , dos velhos filmes e sonhos cor-de-rosa num mundo de fantasia. E fiquei a gostar, passei a fã com a promessa de verificar in loco na primeira oportunidade.

Bem, com outra taça de Asti o professor queria seguir já no outro dia, mas adiantei que nada se poderia fazer antes da merendola lusitana. E a tertúlia decidiu que não.

No fim aprazámos o dia, melhor dizendo, o fim da tarde, primeiro provisório, dias depois tornado definitivo. Tudo por minha conta excepto o doce, que ficou reservado ao bar esse serviço, a par do Asti adocicado e da refrigeração de seis garrafas do branco bical da Adega da Mealhada que havia de trazer para baixo juntamente com os enchidos na manhã respectiva.

E assim foi, depois de requisitar os serviços da ragazzina, a Giovana, para me ajudar nos preparos. Apesar do bar ser de frios, cozinha a rapariga muito bem os quentes e quando é preciso, acende o fogão de gás e faz uns deliciosos pratos de spaghetti alla putanesca ,pasta di mandorle, risotto al sugo,  raviolis ou tagliatela , que são o anti primo e o primo de muita gente , além de fazer uma dobrada á moda genovese que nada fica a dever á dobradinha tripeira.  Excepto na apresentação, aqui não se juntam os componentes do prato numa miscela ou mistura de sabores, come-se primeiro a massa e só depois a dobrada embebida nuns molhos de zafferano, burro e peperone que lhe dão divinos aromas. O único senão é eu não poder comer destas coisas. É que há oito anos a esta parte, namorava uma viúva que gostava do passeio. Então corríamos Portugal de lés a lés, do Vau ao Castro Laboreiro, da Foz do Arelho a Segura, gozando dos rendimentos, da paisagem, do gourmet e doutros prazeres carnais, dançando para digerir as gorduras, correndo para evitar o colesterol, o que não foi suficiente para escapar a fraquezas do coração entre um tango e um passe doble numa sexta-feira á noite, e ser hoje obrigado a não abusar dos temperos.

O professor, que sabe destas mazelas que as teve também na pele, nos seus tempos de director da cardiologia do Hospital de S. Martino, se me vê a abusar destas tentações e pecar, põe-me rispidamente a mão no ombro e quase me grita ao ouvido: Non Madonna mia, fermate !!!!  e repete, Nera Madonna  ! Nera Madonna ! E eu procuro fermare, ou travar, que é a mesma coisa.

Na tarde aprazada estava um calor recalcitrante. Insuportável. Os trinta quilómetros de falésias que marginam a cidade ao longo do mediterrâneo eram um vespeiro de gente, mas á hora marcada, seis da tarde, a Teresa, a Maura, a Graça, a Stefanie, o Professor, o Saviano e o resto da tertúlia apresentaram-se ao toque.

Da cozinha elevava-se o cheiro das chouriças penacovenses grelhando com lentidão, enquanto a Giovana mais um candidato a namorado, um emigrante esloveno que trabalhava lá para os lados de Sampierdarena e se apresentava ali com um BMW em segunda mão depois de ter deixado mulher e cinco filhos para lá da fronteira de Trieste, ajudava a cortar o presunto de Chaves em tiras tão finas que se podia ver o sol, ladeadas por uma lasca branca que abria o apetite por pouca fome que houvesse. Não era o caso.

Tudo na mesa em meia dúzia de travessas e abriu-se o bical, gelado como recomendava o menu e que satisfez plenamente os exigentes bebedores, melhor que o asti que se seguiu, doce demais para estes pratos picantes e salgados, mas que acompanhou muito bem as alheiras de Mirandela quando saltaram crocantes da frigideira para o prato e se trouxe a última garrafa do bical da porta do frigorifico.

Só então me sentei no topo da mesa desemborcando a cadeira de plástico que me era destinada, para saborear o prazer da degustação lusitana perante a toalha aberta que pouco a pouco se foi esvaziando até ás migalhas, com a aprovação, por fora e por dentro, da acalorada tertúlia.

Juntamos o malhão e o vira ao sole mio do ano anterior e quase me senti o rei de Portugal, plastificado naquela cadeira de cor azul do martini quando limpa a mesa de comestíveis se acabou no espumante.

Ninguém se lembrou mais do salame de Budapeste, em boa verdade, também porque do enchido português não restou naco nem pele para fazer um caldo verde.

Quando se arrumou tudo, se fechou a porta do bar de tavolla freda e se foi embora o esloveno no BMW em segunda mão, com o discernimento toldado pelas borbulhas do espumante, ainda disse á Giovanna, não sejas louca, não vás para a Eslovénia atrás dele que a mulher tira-te a pele!

E chamando o elevador fui para casa, no quarto andar, já os meus netos clamavam pela minha presença para lhes contar uma história antes de adormecer. Inventei uma história com a Sissi, a imperatriz.

Mas depois sonhei com Budapeste. Hei-de lá ir sim senhor!                                  Génova, Agosto,2010     

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