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______BUÇACO______

TEXTOS ,SUBSÍDIOS, APOIO

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14
Jan10

GABY DESLYS


Peter

 

GABY DESLYS,

AMORES DE REI NO BUÇACO

 

  A vida de Gaby Deslys passaria ao nosso lado, não fosse o facto de ter estado no Bussaco, em Agosto de 1910, acompanhando e de algum modo confortando os dias conturbados e difíceis do jovem rei D. Manuel II, a dois meses da implantação da República, naquele que foi na altura, um criticado devaneio amoroso do nosso último rei. È isso que pretendemos desenvolver em linguagem simples, conhecer em mais pormenor esse escondido evento do nosso património histórico local, numa tentativa de o aclarar perante uma opinião pública que, regra geral, o desconhece.

  Sem pretensões da exactidão duma aturada busca histórica, mas respeitando a pouca biografia acessível que se refere ao assunto, vamos começar por situar a acção no Verão de 1910, Julho e Agosto, apenas porque foi esta estadia, entre outras que se atribuem ao monarca, a mais prolongada e significativa.

  O rei deslocou-se a 12 de Julho para o Buçaco a conselho médico, e aqui se manteve até 23 de Agosto desse ano de 1910. Quarenta e dois dias.

   Era presidente do Conselho de Ministros Teixeira de Sousa que enviou para sua protecção 40 polícias de segurança, agentes da judiciária, uma força de infantaria e um destacamento de cavalaria. A 14, dois dias depois da chegada, correu em Lisboa o boato da eminência duma revolução, ao qual se juntou a notícia dum golpe de mão sobre o monarca, no Buçaco. Todas as forças ficaram de prevenção, porém a rebelião, tratava-se do levantamento de Machado Santos e Cândido dos Reis, foi adiada.

  Nestes últimos meses a situação política agravara-se de tal ordem que o reino era uma ruína, a desorganização total, Lisboa estava a ferro e fogo e todos os dias se aguardava o desencadear da revolta que milagrosamente tirasse o reino do lodaçal de corrupção e incompetência em que se tinha metido e da bancarrota que se avizinhava a passos largos. Iam passados mais de dois anos sobre o regicídio e a morte de D. Carlos e do príncipe Luis Filipe e continuava-se a nada esperar do herdeiro D. Manuel, preparado para oficial de marinha e não para reinar.

 A situação era de tal modo grave que, quando se pensou em arranjar casamento para o monarca, não se encontraram princesas disponíveis na Europa para vir morar para Portugal, um país tido como atrasado, ignorante, perigoso, ainda que o rei, apesar da sua juventude, fosse considerado um monarca instruído, afável, simpático, de bonita figura, que falava fluentemente o português, o inglês, o francês e o alemão.

   Ora foi neste ambiente difícil, até trágico e incógnito que  o rei , ou porque aproveitasse a estada ou porque a tenha  propositadamente provocado, reclamou a companhia  de Gaby Deslys,  uma bailarina da noite parisiense que, como iremos ver a seu tempo, tinha conhecido numa das suas passagens pela cidade luz. Não encontramos referência á data da chegada da diva ao Buçaco mas tudo indica que a permanência foi longa e o idílio prolongado.

Logo que chamada, a artista não se fez rogada e deixando Paris no sud express

desembarcou, eventualmente na estação da Pampilhosa, não há notícia e juntando-se ao monarca que se encontrava no Palace Hotel , instalou-se no Chalet de Santa  Teresa, edifício ainda hoje existente e que substituiu . aquando da construção do hotel, a ermida de Santa Teresa que ocupava aquele local. Ali permaneceu gozando da paixão que facilmente se apoderou de ambos. O rei tinha então 20 anos, a Deslys 27, a juventude por força e simplicidade, ambos de trato fácil e gentil, ela feita e experimentada numa vida dura mas cheia de êxitos, tudo de feição a que o romance, e um rei, seja mesmo dum pequeno e intragável país como Portugal, é sempre um rei, se apertasse e fosse por diante. De resto D. Manuel, como já se disse, era uma figura simpática, atraente, como se pode ver pelas fotografias existentes, e facilmente agradou á diva francesa, numa relação aliás, que, mercê da popularidade de que gozava a actriz no mundo artístico da época depressa deu origem a variados comentários, entre os quais se regista o do New YorK Times Herald  que a apelidava de concubina régia.

  O hotel do Buçaco, mandado construir pelo pai sob a gestão do ministro Emídio Navarro, a maior figura que o Luso alguma vez teve, dava os primeiros passos, que também foram os primeiros passos dos grandes hotéis em Portugal.

 Jardins, floresta e tranquilidade forneceriam o cenário das mil e uma noites, adequados aos subtis encontros amorosos e o Buçaco, como o teria sido em Sintra, foi o paraíso da sua libertação, aqui, com a vantagem de aproveitar a distância na ausência da rainha mãe Amélia de Orleãs , da padreirice lisboeta que diariamente o atordoava com sermões e pecados , longe de ministros , secretários e das clientelas que se movimentavam pelos meandros do poder em inventonas e matreirices sempre prejudiciais aos negócios públicos.

O rei registou nas suas memórias estes momentos de felicidade, dos poucos que lhe reservou o seu breve reinado.

  Ora como nem tudo são rosas nesta vida, também ao monarca os prazeres ficavam caros e a época não lhos perdoou. A medida que se foi tomando consciência desta relação real , as criticas , então como agora, não se fizeram esperar , e a ligação passou a ser alvo do descontentamento geral , onde sobressaiam as vozes tonitruantes  do partido republicano, mas também de progressistas e regeneradores, reconhecendo unanimemente a inconsciência  a leviandade do monarca , contrapondo aos luxos  e exageros da corte o estado miserável do reino. Tinham razão , mas á inconsciência  juntavam  ainda  a tradicional liberalidade dos Braganças no que respeitava a  excessos herdados

do rei D. Carlos , exemplo que o filho, dizia-se, se prestava a seguir. Jornais como O Dia ou o Mundo  não regateavam nas criticas e nos insultos , num país de facto caótico , ás portas da falência social e politica onde grassava o crime, a fome, a doença, a incúria.

  Paixão, que não agradava também á rainha mãe D. Amélia, consciente e farta da libertinagem do Rei D. Carlos, seu defunto marido, e comentava:“Vim a saber pelas más-línguas que Manuel ainda tem uma paixoneta por essa divazinha do music-hall parisiense, Gaby Deslys, de origem marselhesa, cujo verdadeiro nome é Gabrielle Caire. Correm boatos segundo os quais Manuel segue as pisadas do pai e os seus esforços políticos serão imediatamente anulados por isso”.

  Das razões do reino, este lúcido comentário da rainha ilustra bem o descontentamento, mas sobretudo a falta de discrição no tratamento duma questão que, não fora a época conturbada em que aconteceu, talvez não tivesse ecos nem gerado tantas criticas e comentários como veio a acontecer.

  On-line em  BUÇACO,blogs, sapo.pt

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