MANUEL ALVES
Peter
MANUEL ALVES
Poeta Cavador
Manuel Alves nasceu no lugar de Vale de Boi, freguesia da Moita, concelho de Anadia em 15 de Outubro de 1843, filho de Constança Alves ou Constança de Jesus, ou Constança Rosa e de pai incógnito. Foi neto materno de José Alves ou de José da Quinta e de Rosa Maria ou Maria de Jesus.
Este bilhete de identidade simples e claro dado por um Conservador do Registo Civil pode dar e não dar uma ideia clara do que foi a sua vida, mas dará certamente que pensar a quem se interessar pelos homens e seus valores.
Reinava
Por volta de 1860 já Manuel Alves tinha uma aura de fazedor de versos e era conhecido na região da Bairrada. Como diz o seu biógrafo António da Silva Neves, pequeno, pobre, de olhar brilhante, mal vestido, espicaçado por uns, picado por outros, ia tecendo a sua fadário. Desafiava quantos cantadores e poeta populares lhe aparecessem, a todos vencia. Implantava-se no seu espaço com alguma prosápia, superioridade natural advinda das vitórias nos prelos com pimpões, safardanas.
“ Cantar é para quem sabe
Melhor é para quem escuta…”
.
Ora nesse tempo, a Romaria de Quinta Feira da Ascensão, no Buçaco, era na região a mais popular, aquela que juntava no ermitério deixado não havia muito tempo pelos frades conventuais, milhares de pessoas, não só toda a Bairrada ali caía, mas um centro muito mais dilatado e entre a caminhada, os folguedos, a feira, o almoço, a festa e até zangas e pancadaria, se desenrolava um dia diferente para toda a gente dos campos, alegre tradição que ainda hoje perdura na memória e nos hábitos de muitos.
Era aí que o poeta, um grande amante do Buçaco, como iremos ver, debitava entre romeiros e oficiais do mesmo ofício a sua veia poética. Aí conheceu alguns amigos que lhe registaram as rimas, entre outro João de Deus, Guerra Junqueiro ou Tomas da Fonseca.
O Professor Manuel Rodrigues Lapa, um anadiense autorizado, escreveu sobre o conterrâneo “ Há
Manuel Alves cantava de improviso e ao Buçaco, que era parte do seu chão, cantou
Adeus, cerca do Buçaco
Adeus, real portaria
Adeus, caveira mirrada
Serás minha companhia
Adeus, sagrados rochedos
Onde vertem tantas fontes,
Adeus, valeiros e montes,
Adeus, altos arvoredos,
Adeus, musgos dos penedos
Que servem de santo ornato
Adeus, tremendo aparato,
Pintura do Santuário,
Adeus, alto do Calvário,
Adeus cerca do Buçaco.
Adeus, torres, adeus, sinos
Sois música dos finados;
Adeus, castiçais dourados,
Adeus, sacrários divinos,
Adeus, painéis cristalinos
Adeus, santa livraria,
Adeus, Filho de Maria,
Cravado de pés e braços
Adeus, memória dos paços,
Adeus, real portaria.
Adeus, santo monumento
Da santa religião,
Adeus quadro da Ascensão,
Adeus mata, adeus, convento;
Adeus, Cruz Alta, que ao vento
Ergues a fronte sagrada,
Adeus, tribuna dourada,
Adeus altar dos missais,
Adeus, santos imortais,
Adeus, caveira mirrada.
Adeus, cálix consagrado
Com sangue de Jesus Cristo
Adeus, Herodes Ministro,
Adeus, ó Judas malvado,
Adeus, alto do senado,
Próprio lugar de agonia,
Adeus, reis da gerarquia
Que ao mundo dais graça e luz,
Adeus madeiro da Cruz,
Serás minha companhia.
Bibliografia: Manuel Alves, O Poeta da Bairrada, 1991 Anadia, António Silva Neves, edição de autor;
Versos dum Cavador, 1993, Anadia, revisão de José Ferraz Diogo , Câmara Municipal, Anadia