BUÇACO, REPOR A VERDADE
Peter
O Conselho de Ministros de 8 de Março último suspendeu o apoio á Fundação Mata do Buçaco. O diploma aprovado exclui as ajudas através da atribuição de dinheiros públicos via Orçamento do Estado ou via Municípios. Esta decisão veio criar a contestação entre as forças politicas concelhias sobretudo entre aquelas que criaram a Fundação e se apoderaram e envolveram na gestão daquele espaço acreditando que a solução Fundação resolveria o problema da Mata Nacional.
A meu ver, como venho defendendo, estão enganados. Por várias razões a primeira das quais e principal tem a ver com a propriedade da Mata Nacional. Se a Mata é Nacional é do Estado e se é do Estado é ao Estado que compete fazer a respectiva gestão com dinheiro do Orçamento respectivo e não, como vem acontecendo, com o dinheiro da Câmara, que pertence e deve ser gasto em favor do património municipal.
Tirar aos munícipes para gastar no nacional, não me parece correcto e não sei se os executivos municipais o podem e devem fazer. Desde a nacionalização de 1834 resultante da confiscação dos bens das ordens religiosas foi a floresta gerida pelo mesmo Estado através do Ministério da Agricultura, mas hoje, por insistências das autarquias, ciosas de lugares para colocar clientes e amigos, a Mata do Buçaco, como muitos outros bens, beneficiaram da leviandade do consulado de Sócrates para serem entregues a quem precisava de conservar e aumentar o poder do partido e controlar os votos internos do conjunto paroquial.
Nesta linha, para a Mata do Buçaco foi escolhido pelos políticos um técnico de engenharia civil , sem curriculum portanto, face aos muitos engenheiros florestais que tem hoje o país, aptos a satisfazer as exigências específicas do cargo. É a segunda razão, a da transparência na vida pública e da desarticulação do compadrio partidário que se forma após cada eleição. A credibilidade do sistema exige mudanças neste campo e é preciso que as coisas sejam feitas com seriedade e profissiolismo e não como brincadeiras de crianças desrenposabilizadas.
A terceira é sem dúvida o estado degradado em que se encontra a Mata em termos de conservação, bastante pior do que no tempo em que imperava o Ministério, embora se lhe assacassem criticas nesta matéria. Hoje, quem conheceu o espaço, verifica que a degradação se agravou com a actuação da Fundação e os 105 hectares estão bem piores que na gestão anterior embora os actuais gestores defendam, por desconhecimento e turbação pessoal, os factos. É uma razão de peso, a terceira, que pode até comprovar-se através dos mapas Google streets recentemente postos em rede com algumas partes filmadas antes e nos princípios da gestão criada.
Outra razão, a quarta, reside no facto de que no inicio deste pouco eficiente mandato, por incúria dos novos gestores , foram destruídos dezenas de pés de azevinheiro, arvore protegida, facto abafado nos caminhos das averiguações . Também no recente temporal que abalou o bosque, o cedro de S. José, o mais antigo da Mata, ruiu porque estavam partidos os cabos de aço que há dezenas de anos suportavam o exemplar. E a gestão sabia-o, foi alertada para o facto e nada fez pela defesa da árvore. É um fenómeno de importância extrema para a Cerca murada, a destruição deste recurso botânico secular.
As relações entre a Fundação e as pessoas locais, os residentes da freguesia do Luso, Carvalho ou Trezoi, os primeiros apoiantes em catástrofes, que já várias vezes salvaram o espaço do alastrar dos fogos, degradaram-se pelas toscas normas e ridículas proibições impostas pelos novos proprietários senhoriais , absolutamente ditadores , cegos e sem qualquer sensibilidade ou respeito para com o meio onde se insere o bem. No próximo verão, se houver um incêndio na floresta, duvido que alguém acorra ao chamamento por socorro. Ou se virão a correr os brincalhões de Aveiro ou de Coimbra que se entretem aos domingos a espanejar as árvores .Quinta e pesadíssima razão da falência do espaço e prova segura da insensibilidade botânica de quem o dirige.
Finalmente, para não ir mais longe, é preciso não esquecer que esta Fundação foi recentemente avaliada em termos do trabalho levado a efeito. Pago por nós, portugueses e contribuintes.
Ora qual foi a nota atribuída á gestão? Um medíocre 44% , foi quanto valeu o trabalho realizado na ponderação mandada efectuar pelo próprio Estado , legitimo possuidor do bem.
Será correcto colocar o dinheiro dos nossos impostos a sustentar serviços medíocres quando se passa fome neste país? Este é um facto mensurado e um facto grave. O dinheiro não é da Fundação, é dos impostos de cada português e em mercado, amigos amigos, negócios aparte. Em qualquer país sério ou se demitiam os responsáveis ou seriam substituídos. Não percebo mesmo porque razão se mantém em funções, contrariando a lógica duma sã e eficaz gestão da coisa pública. Será o bicho a espalhar as raízes?
Por isso, que se lhe retire o dinheiro dos contribuintes, é um passo sério e bem dado, mas falta ao Governo não deixar em suspenso o que diz respeito á Mata e para tanto, a solução correcta é fazer retornar o espaço á gestão anterior do próprio Estado proprietário, que não se pode abster nem alhear do quanto nos pertence a todos nós. Caso concreto da Mata Nacional do Buçaco.
Se o Estado se alhear da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, do Mosteiro dos Jerónimos, do Panteão Nacional, do Mosteiro da Batalha ,ou doutro património comum, em que transformamos a memória e a alma dum povo já se si pobre , explorado e deprimido?