ONDE FOI A BATALHA ?
Peter

Fotografia actual do Moinho da Moura, freguesia de Trezoi, concelho de Mortágua,
que serviu de Posto de comando a Massena. (foto do autor)
Temos vindo a assistir ás comemorações do segundo centenário da Guerra Peninsular cujo momento principal ocorre em 27 de Setembro próximo no que concerne à Batalha do Bussaco.
Foi uma fase dramática do nosso percurso comum que deve e está a ser lembrada um pouco por todos os palcos de então, ainda que os tempos actuais sejam de desvalorização e banalização dos acontecimentos, parte integrante de lutas internas que fazem ainda hoje do espaço europeu uma fronteira em consolidação.
Acontece que as comemorações no que diz respeitam à batalha em referência, são levadas a efeito no município da Mealhada, área administrativa que parece chamar a si o exclusivo do evento e, pressupõe-se também o cenário dos ditos acontecimentos. Nada de mais errado.
Não sabemos os porquês deste estranho exclusivo pois a história pátria ainda não foi mudada nem se pode mudar ao gosto de qualquer oportunidade política e sendo assim, manda essa mesma verdade histórica e o rigor que a legitima desmistificar o erro, pois na realidade em relação à Batalha do Bussaco não se deu um tiro sequer no então concelho da Vacariça, concelho entretanto extinto e que passou a chamar-se da Mealhada.
Todo o desenrolar bélico desta contenda entre o exército francês de Massena e os anglos lusos se desenrolou na sua primeira fase no concelho de Penacova, distrito de Coimbra, encostas de Santo António do Cântaro, freguesia de Carvalho,e numa segunda fase no concelho de Mortágua, distrito de Viseu, vertentes do Moinho de Sula, freguesia de Trezoi.
O então concelho da Vacariça onde se situava geograficamente o Convento Carmelita, abrangia, como abrange ainda hoje, uma parte da serra e apenas essa pertencia à então Vacariça, na freguesia do Luso. Na sua maior parte a serra pertence ao concelho de Penacova no distrito de Coimbra, tendo ainda uma pequena franja de terreno no concelho de Mortágua e uma outra no próprio concelho de Coimbra e não se limita á Mata Nacional , que é uma pequena parcela ,pouco maior que os 105 hectares que limitam o velho convento carmelita.
O concelho da Vacariça , na vertente oposta à luta, serviu de passagem e apoio, serviu em termos logísticos , como serviram outros concelhos limítrofes dentro das estratégias montadas pelos generais Wellington e Massena , desde os caminhos tomados por Almeida, Mangualde ou Viseu, depois Tondela e Santa Comba Dão e mesmo depois da luta, Anadia ou Àgueda e outros. É verdade que funcionou na freguesia do Luso um hospital de sangue, é verdade que alguma oficialidade britânica subtraiu aos frades carmelitas os aposentos para ali se instalar , é verdade que a cavalaria aliada foi colocada perto da Mealhada por se pensar ir ser inoperante face á morfologia do terreno. Mas também é verdade que a maioria dos batalhões e regimentos dum e doutro contendor permaneceram uma semana na serra, fora do concelho da Vacariça, percorreram durante esse tempo os concelhos vizinhos , roubaram, destruíram e mataram populações locais e isso não aconteceu no concelho da Vacariça. Aqui , não se desenrolou o acto físico da luta e nem um tiro se deu em defesa da pátria e dos interesses ingleses.
Por isso se estranha a exclusividade das comemorações pois a Batalha do Bussaco envolveu populações da região sobretudo, sublinho,dos concelhos actuais de Penacova e Mortágua, se não quisermos estender os factos ao percurso entre Almeida, Viseu e o campo de batalha. Deve referir-se até, que o concelho da Vacariça foi um pequeno oásis no cenário dantesco que foi o caminhar dos dois exércitos através do país, pois a freguesia do Luso, onde presumidamente poderiam acontecer factos relacionados com o fenómeno, nada registou para lá duma súbita dormida de Beresford na Lameira de Stº Eufêmea e duma subita passagem de Massena na Mealhada após o desvio de exército por Boialvo e Avelãs.
Porque não podemos enganar a história nem os factos e nem os lugares onde se passaram as coisas, aqui deixo a titulo de rectificação, a estranheza por ver esquecidos, ou por ignorância, ou intencionalidade, não o sei dizer, os representantes actuais dos que então sofreram nas entranhas os sacrifícios da luta, em abono da verdade e da honestidade intelectual, os municípios de Penacova e Mortágua. Deviam ser parte activa destas comemorações, pois eles foram o grande palco desta fase da Guerra Peninsular. Para além de Coimbra que já na retirada das forças após o inconclusivo recontro , foi tomada e rapinada , diga-se , por uns e por outros.
O rigor histórico não pode ser ultrapassado, nem pelo município da Mealhada, nem pelo Estado-Maior do Exército, nem pela Academia Portuguesa de História, entidades que parecem estar por trás das comemorações. Aqui fica a titulo de informação o que devia ter sido feito e considerado por essas entidades.