A Ermida do Sepulcro assenta os seus alicerces sobre rochas compactas que caiem abruptamente sobre a encosta da serra formando pitorescos recantos seguindo o desenho destas estruturas básicas. Aqui uma pequena gruta, ali uma saliência que alberga uma vista peculiar, acolá um abrigo de exuberante vegetação. Mas na parte posterior da Ermida que pende para as Portas de Coimbra a uma loca maior se dá desde tempos antigos o nome de Gruta ou Toca do Negro. Diz a lenda que os séculos forjaram , que em tempos imemoriais ali procurou segurança um negro salteador que aproveitando as noites escuras da floresta partia em demanda de bens sobre as aldeias vizinhas ou sobre exemplares dos rebanhos qque subiam a montanha na procura de melhores pastos.
Uma segunda versão da história chama ao mesmo local a Cova ou a Toca do Boçal, aqui retirando a cor negra da pele ao bandido que de igual moda assolava as aldeias vizinhas provocando os mesmos efeitos. Retirado o negro da história, eles só chegaram á Europa no séc.XV , a etimologia andou para trás no tempo , acertou-se com as gerações até ao século X e o nome Bussaco atribui-se então ao termo Boçal. Dele terá , através de várias transformações semânticas, surgido Bussaco. Mas eis que uma nova versão etimológica romantiza ainda mais o assunto, agora afirmando que um velho e bom homem nascido nas redondezas da serra, a costumava frequentar tornando-se asceta por conta própria e deixando o seu povoado e o seu lar embrenha-se em penitência pelos bosque do Bussaco de comunhão com um rigoroso jejum , abstinência e oração.No regresso, perguntando-lhe vizinhos e familiares sobre o que vira no ermo, o velho, cofiando as barbas esbranquiçadas que lhe chegavam seguramente ao tornozelo, erguendo as mãos ao céu balbuciava como se fosse uma prece”…daquele monte saco bus”. E repetia”…daquele monte saco bus…daquele monte saco bus…” Sucessivas repetições e arranjos ortográficos e fonéticos chegaram ao actual Buçaco.
Finalmente a última versão para esta etimologia complicada aponta o lugar de Sublaco, perto de Roma e onde S.Bento passou três anos em rigorosa penitencia formando a Ordem dos Beneditinos, a origem do nosso Buzzaco, Buzaco,Bussaco e hoje Buçaco derivado aqui do dito Sublaco , que ainda hoje existe.Esta derradeira teoria era defendida pela poetisa Bernarda Ferreira de Lacerda que no seu livro” Soledades do Bussaco”, diz:
En aquele siglos de oro
E venturosas edades
Qual el de Lacio Sublaco
Solia el monte llamarse
No ano de 919, num documento em latim bárbaro, surge o nome Bussaco numa doação do lugar de Gondelim feita por Gundesindo e outros ao mosteiro de Lorvão que diz:”…com suas valles que discurrunt de monte Buzaco” ( Portugalie Monumente Historica,vol. 1 pág. 14)
No ano de 974 ,num testamento transcrito da mesma obra , lê-se”…Inter uimeneirola et barrio ripa vacariza suptus mons buzaco.
Noutro testamento de 1002 , lê-se :…” in loco predicto vacariza subtus monte nuncupato buzaco…”
Remontam aos mais antigos documentos escritos respeitantes á região , diz Frei João do Sacramento” …um pico ou cume de sorte elevado que descobre , e é descoberto de grande parte do reino.
Alberto Pimentel, um poeta da floresta sagrada pôs em verso uma versão da história.Ei-la:
Não havia em toda a terra
Como aquele,um santo velho
De mais prudente conselho
De mais pio coração!
No seu doudejar sem tino
Quando o mundo o enfastiava,
Lá se ia o peregrino
A viver na solidão…
O que ele dizia aos troncos
D’essas árvores gigantes
Nos muito doces instantes
Do seu meditar ali
Ninguém o sabe,mistérios!...
Se não podemos sabe-los,
Não posso eu escreve-los
Nem relata-los aqui…
No meio da espessa mata
Tinha ali a sua ermida
A chama-lo á santa vida
Dos que vivem para Deus…
E o seu corpo já cansado
Ganhava força e alento
Sentindo a bênção dos ceus!...
Se o corpo ganhava tanto
Naquela tão doce calma,
Muito mais ganhava a alma
Da solidão no crisol!
Que o velho na sua ermida
Passa uma existência santa,
Desde que o sol se levanta
Até que se extingue o sol!...
E quando voltava ao mundo
E descia ao povoado,
Vinha o velho tão mudado
Tão airoso!Tão gentil!
Que agente pasmava ao vê-lo
E rezava o padre nosso
Vendo o velho feito moço,
O gelo tornado Abril!...
-Remoçaste! Vens mudado!
Tens mais pretos os cabelos!
Os olhos luzem mais belos!
Que diferença! Jesus!
Tem condão a tua mata!...
Então o velho sorria
A quem falava,dizia:
-Do meu monte-saco bus.
Cre-se que destas palavras
Duma santidade estranha,
Veio á sagrada montanha
O nome que hoje lhe dão
De Bussaco! Por memória
Daquele santo tão velho
De tão prudente conselho,
De tão pio coração…