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______BUÇACO______

TEXTOS ,SUBSÍDIOS, APOIO

______BUÇACO______

TEXTOS ,SUBSÍDIOS, APOIO

02
Mar15

O PORTÃO DOS PASSARINHOS


Peter

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Q uando se fala às gerações actuais do Buçaco , poucas hão-de ser as pessoas que não associem o nome a recordações agradáveis dum passeio, ao frondoso arvoredo, á frescura das sombras,  ao  palácio  encantado onde figuram numa fotografia num momento de felicidade, ao panorama usufruído da Cruz Alta  , à vista que ao olhar surpreende a Estrela ou uma praia atlântica. É uma voz que nos surpreende e afaga, qualquer coisa de nós próprios, como se o Buçaco, no mistério da sua história secular, fizesse parte e pertencesse a cada um de nós portugueses.

Este sentimento ou emoção alarga-se aos naturais numa dimensão mais intima e a actos próprios que vão ao pormenor de nomes, histórias e segredos, à familiaridade das fontes, das ermidas, das veredas, às portas, aos muros, às árvores, às pessoas. Aqui, o misticismo é mais agudo, mais profundo, mais vivido e mais sentido como sendo igualmente nosso, mas de coração e alma. Está neste caso o Portão dos Passarinhos, de que falei no post anterior e ao qual volto com essa devoção de arauto da saudade.

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Quem não recorda o primeiro passeio ao Vale dos Fetos, às Portas de Coimbra ou um jogo de futebol na primeira casa do guarda? A descoberta da Fonte Fria, das Capelas, uma merenda farta no dia da Ascensão os tiros do 27 de Setembro, a mesa posta no Carregal , na Cascata, em Santa Teresa entre família e amigos? Porque este é verdadeiramente o Buçaco da nossa interioridade, o Buçaco que temos dentro de nós, o Buçaco que nos pertence, que nos fala e nos retêm como se fosse pai, como se fosse mãe. Um Buçaco telúrico, um chão que nos ultrapassa a visita e nos encharca na humidade do sangue que nos corre nas veias, que nos inala o cheiro, o gosto e o sabor como pertença. E é certo que nada disto nos pertence individualmente mas somos nós sua pertença, presos que estamos ás recordações primárias que a alma nos gravou dentro, uma reciprocidade de nascença marcada a ferro e fogo.

Quem não entrou uma vez o Portão dos Passarinhos na cumplicidade dum embrionário amor? Uma mão dada na primeira tentativa, um arrepio no beijo roubado a medo, a sorte dum abraço apetecido, prenúncios dum supor casamenteiro? Isto fala de nós, é nosso, é um cunho do sítio e da natureza um sentimento atávico da hereditariedade.

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Este é o moderno Portão dos Passarinhos para quem sobe do Luso, não a única entrada mas sem dúvida a mais ornamentada e nobre, com uma ligação profunda à porta de que se falou anteriormente, a Porta do Serpa. Porta do Serpa que se confundiu durante algum tempo com Porta do Luso, uma simbiose entre um nome de baptismo e um nome popular. A Porta, com ambos os nomes, dava acesso à Cerca antes da anexação dos quinze hectares do Conde da Graciosa ao perímetro do Convento. Antes, quase um pequeno postigo chamado Porta do Luso, depois ambos os nomes, depois do postigo de Machado ser substituído pelo portão Perseverança. A Porta, que é a mesma, foi transferida do local da ex-porta do Luso ou do Serpa para a nova entrada pela Graciosa. Desapareceu o Serpa, chamou-se-lhe Porta do Luso como era, mas o povo, chamou-lhe dos Passarinhos com referência aos quatro passarinhos fundidos em ferro que adornam o embrenhado ferroso. Os passarinhos não voaram, estão lá, conservando o romantismo duma época passada mas não esquecida na memória dos homens.

Não sei como se conservam perante o total abandono a que votaram a obra de arte, e pergunto-me mesmo por quanto tempo se conservarão. É um crime perpetrado contra nós todos, contra a nossa cultura, contra a nossa memória, contra a nossa riqueza, contra o património construído em permanente destruição. Degradante! Portão e muro, uma ruína em marcha.

Ninguém, dos que são bem pagos para governar este país, tem vergonha dos seus actos e omissões?  Aqui ficam imagens , de testemunho!

 

22
Jan15

AINDA A SENHORA DO LEITE


Peter

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É claro que quando alguém  critica o que se destrói

irresponsavelmente já  deduz que nada vai ser remediado

e tudo se vai resumir a inqueritos sem consequências.

Se isso é assim em assuntos fundamentais para o povo

deste país como poderia ser diferente para uma mini

comunidade de pouca massa  e cabedal?

Da  nossa e Nossa Senhora do Leite não foi encontrado

o assassino e assim morre no discurso e na indignidade

um pedaço do património. É a imagem triste deste país

sem regras, sem seriedade e em crise, não só  crise

financeira como uma séria e mais nefasta crise  de ética.

13
Mar13

BUÇACO, REPOR A VERDADE


Peter

 


 O Conselho de Ministros de 8 de Março último suspendeu o apoio á Fundação Mata do Buçaco. O diploma aprovado exclui as ajudas  através da atribuição de dinheiros públicos via Orçamento do Estado ou via Municípios. Esta decisão veio  criar a contestação entre as forças politicas concelhias sobretudo entre aquelas que criaram a Fundação e se apoderaram e envolveram na gestão daquele espaço acreditando que a solução Fundação resolveria o problema da Mata Nacional.

A meu ver, como venho defendendo, estão enganados. Por várias razões  a primeira das quais e principal tem a ver com a propriedade da Mata Nacional. Se a Mata é Nacional é do Estado e se é do Estado é ao Estado que compete fazer a respectiva gestão com dinheiro do Orçamento respectivo e não, como vem acontecendo, com o dinheiro da Câmara, que pertence e deve ser gasto em favor do património municipal.

 Tirar aos munícipes para gastar no nacional, não me parece correcto e não sei se os executivos municipais o podem e devem fazer. Desde a nacionalização de 1834 resultante da confiscação dos bens das ordens religiosas foi a floresta gerida pelo mesmo Estado através do Ministério da Agricultura, mas hoje, por insistências das autarquias, ciosas de lugares para colocar clientes e amigos, a Mata do Buçaco, como muitos outros bens, beneficiaram da leviandade do consulado de Sócrates para serem entregues a quem precisava de conservar e aumentar o poder do partido e controlar os votos internos do conjunto paroquial.

 Nesta linha, para a Mata do Buçaco foi escolhido pelos políticos um técnico de engenharia civil  , sem curriculum portanto, face aos muitos engenheiros florestais que tem hoje o país, aptos a satisfazer as exigências específicas do cargo. É a segunda razão, a da transparência na vida pública e da desarticulação do compadrio partidário que se forma após cada eleição. A credibilidade do sistema exige mudanças neste campo e é preciso que  as coisas sejam feitas com seriedade e profissiolismo e não como brincadeiras de crianças desrenposabilizadas.

  A terceira é sem dúvida o  estado degradado em que se encontra a Mata em termos de conservação, bastante pior do que no tempo em que imperava o Ministério, embora se lhe assacassem criticas nesta matéria. Hoje, quem conheceu o espaço, verifica que a degradação se agravou com a actuação da Fundação e os 105 hectares  estão bem piores  que na gestão anterior embora os actuais gestores defendam, por desconhecimento e turbação pessoal, os factos. É uma razão de peso, a terceira, que pode até comprovar-se através dos mapas Google streets recentemente postos em rede com algumas partes filmadas antes e nos princípios da gestão criada.

   Outra razão, a quarta, reside no facto de que no inicio deste  pouco eficiente mandato, por incúria dos novos  gestores , foram destruídos dezenas de pés de azevinheiro, arvore protegida, facto abafado nos caminhos das averiguações . Também no recente temporal que abalou o bosque, o cedro de S. José, o mais antigo da Mata, ruiu porque estavam partidos os cabos de aço que há dezenas de anos suportavam o exemplar. E a gestão sabia-o, foi alertada para o facto e nada fez pela defesa da árvore. É um fenómeno de importância extrema para a Cerca murada, a destruição deste recurso botânico secular.

 As relações entre a Fundação e as pessoas locais, os residentes da freguesia do Luso, Carvalho ou Trezoi, os primeiros apoiantes em catástrofes, que já várias vezes salvaram o espaço do alastrar dos fogos, degradaram-se pelas toscas normas e ridículas proibições impostas pelos novos proprietários senhoriais , absolutamente ditadores , cegos e sem qualquer sensibilidade ou respeito para com o meio onde se insere o bem. No próximo verão, se houver um incêndio na floresta, duvido que alguém acorra ao chamamento por socorro. Ou se virão a correr os brincalhões de Aveiro ou de Coimbra que se entretem aos domingos a espanejar as árvores .Quinta e pesadíssima razão da falência  do espaço e prova segura da insensibilidade botânica de quem o dirige.

   Finalmente, para não ir mais longe, é preciso não esquecer que esta Fundação foi recentemente avaliada em termos do trabalho levado a efeito. Pago por nós, portugueses e contribuintes.

Ora qual foi a nota atribuída á gestão? Um medíocre 44% , foi quanto valeu o trabalho realizado na ponderação mandada efectuar pelo próprio Estado , legitimo possuidor do bem.

  Será correcto colocar o dinheiro dos nossos impostos  a sustentar  serviços medíocres quando se passa fome neste país? Este é um facto mensurado e um facto grave. O dinheiro não é da Fundação, é dos impostos de cada português e em mercado, amigos amigos, negócios aparte. Em qualquer país  sério ou se demitiam os responsáveis ou seriam substituídos. Não percebo  mesmo porque razão se mantém em funções, contrariando a lógica duma sã e eficaz gestão da coisa pública. Será o bicho a espalhar as raízes? 

   Por isso, que se lhe retire o dinheiro dos contribuintes, é um passo sério e bem dado, mas falta ao Governo não deixar em suspenso o que diz respeito á Mata e para tanto, a solução correcta é fazer retornar o espaço á gestão anterior do próprio Estado proprietário, que não se pode abster nem alhear do quanto nos pertence a todos nós. Caso concreto da Mata Nacional do Buçaco.

  Se o Estado se alhear da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, do Mosteiro dos Jerónimos, do Panteão Nacional, do Mosteiro da Batalha ,ou  doutro património comum, em que transformamos a memória e a alma dum povo já se si pobre , explorado e deprimido?

  

25
Nov12

PORTA DA RAINHA


Peter

                                                                                                              

Este é um antigo e belo postal representando a Porta

da Rainha no Bussaco em dia de passeio pela Mata

como se pode comprovar pelos varapaus transportados

pelos forasteiros apanhados em descanso.

Esta Porta foi aberta em 1693 para  a passagem da

Rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança , filha

de D.João IV e de Luisa de Gusmão, que pretendia

visitar o Bussaco por razões de fé.

Porque a visita não chegou a ter efeito foi a porta

entaipada e reaberta em 1704 quando passou pelo

Bussaco o Rei D. Pedro II. Foi restaurada em 1876.

A construção desta nova entrada  no Ermitério  

perto da estrada Luso-Mortágua, tirou  mais tarde

importância á Porta de Sula que lhe fica acima três

centenas de metros  e que era até então o principal

acesso para o interior do reino.

Ainda a respeito da Rainha , a impossibilidade da

visita acabou por ser abençoada pois tratar-se-ia

da primeira entrada de mulheres na Cerca

Conventual. Quis a vontade divina, disse-se então,

que tal não acontecesse.

Como curiosidade acrescente-se que foi esta rainha

Catarina, mulher do rei inglês Carlos II, que

introduziu no Reino Unido o uso do tabaco e do chá,

este  segundo que se  veio a tornar depois

num hábito institucional da nação  insular que se

mantem até aos nossos dias.

 

29
Out10

BATALHA BUSSACO 3ª INV. RETIRADA-11


Peter

                                                                                 

     General Montbrun procura caminho alternativo                                                      

 

 A RETIRADA PARA  COIMBRA E LINHAS DE TORRES

 

Na tarde do dia 27 , suspenso o ataque francês , enquanto Wellington se mostrava aos seus regimentos e celebrava cautelosamente o que parecia o triunfo obtido sobre a primeira arremetida dos franceses, reunia Massena no  seu posto de comando do Moinho da Moura com os comandantes de  exército a fim de encontrar uma rápida saída  contornando a serra. Encarregou então o general Montbrun de enviar patrulhas de cavalaria em todas as direcções na busca duma passagem. Soult encontrou um caminho que de Mortágua a conduzia a Carvalho e Gondelim onde se podia passar a vau o Mondego para o lugar do Coiço e seguir depois para a ponte da Mucela a fim de tomar a estrada da beira, mas veio a verificar que o terreno estava nas mãos da cavalaria inglesa, o 13º de Dragões e a cavalaria portuguesa, ambas do comando de Fane e ainda da infantaria portuguesa de Lecor.

 Ao general Sainte-Croix , que explorava em Mortágua uma idêntica passagem  que contornasse a serra pela direita, apareceu porém um camponês que, depois de interrogado informou da existência dum caminho  por  Boialvo e Avelãs de Caminho, onde encontrariam a estrada real do Porto para Coimbra e Lisboa. Foi uma brigada de cavalaria encarregada de fazer um reconhecimento mais aturado do percurso em toda a sua extensão, no que se fez ajudar pelo dito camponês, acabando por encontrar um caminho capaz de suportar a passagem do exército e do respectivo equipamento. Conhecedor desta alternativa na manhã do dia seguinte, sexta-feira 28, Massena mandou de imediato ocupar posições estratégicas, tendo o próprio Sainte-Criox ocupado Boialvo, e outros regimentos estabeleceram-se em Vale de Carneiros e Aveleira.

No mesmo dia mandou reforçar os postos avançados ainda espalhados pela serra e reabriu o fogo em toda a frente, convencendo Wellington que a batalha prosseguia. Deu então inicio à retirada dos seus regimentos de forma discreta e imperceptível, enganando desta maneira os vencedores que se mantinham nos postos de combate esperando por novo assalto.

Eram onze horas da noite, Wellington descansava, quando foi acordado pelos seus oficiais e tomou conhecimento dos movimentos inimigos. Saltou rápido do improvisado aposento e também com extrema rapidez deu as ordens de retirada. A partir da meia-noite as tropas anglo-lusas iniciaram precipitadamente o movimento descendo as vertentes da serra em direcção a Coimbra em tal desorganização, que  dava a ideia de fuga.

Noite escura e de chuva, os frades que ainda se conservam no convento são aconselhados a abandonar o ermitério acompanhando as tropas o que fazem sem hesitações, excepto Frei António da Soledade, frei Inácio da Natividade e Frei Silvestre que se atrasam e decidem seguir na manhã do dia seguinte.

É sábado, 29, manhã cedo, os derradeiros regimentos ingleses deixam a serra apressadamente. Ficam equipamentos, diverso material, barris de pólvora e além de algumas sentinelas dispersas fica na serra um batalhão inglês, uma espécie de carro vassoura destinado á liquidação do negócio inacabado. Além da observação sobre os movimentos inimigos, percorrem os locais dos combates, prestam ajuda aos muitos feridos abandonados e queimam do lado de fora da Porta da Rainha a grande quantidade de pólvora que constituía a reserva ainda guardada junto ao Convento que não conseguem transportar na pressa da retirada. Quanto isto acontece, o estrondo é enorme, ouve-se léguas em redor e além de provocar o abatimento de algumas árvores destrói o muro da cerca por muitos metros escancarando o ermo a toda a gente. No edifício do mosteiro, a onda sonora parte janelas e vidraças causando alguns prejuízos á ordem religiosa. Depois, deixam sessenta feridos franceses na mão dos eremitas e partem.

Para Wellington , a retirada é  vital e  a confusão gerada pressupõe que nem batalha nem vitória serviram para nada. Numa análise simples há todo um contra-senso na situação com os vencedores a retirar á frente dos vencidos comprovando que na altura foi assumida como mais uma das muitas escaramuças que tiveram lugar desde a fronteira, embora a batalha do Côa tenha ultrapassado a simples troca de tiroteio entre soldados.

Numa leitura desapaixonada, a vitória acabou por ser, á posteriori, um prémio de consolação. Dum episódio de passagem transformou-se numa batalha, mercê do momento que depois se considerou como sendo o do começo da derrota de Napoleão. Mais valor simbólico que real. Inócua, em termos militares, ela foi desastrosa em termos humanos causando perdas inúteis em vidas.

Espalhado entre a Mealhada, Carqueijo, Botão e Eiras, o exército de Massena está ás portas de Coimbra em 1 de Outubro e entra na cidade. Estupefacta e horrorizada, ainda a apagar as cinzas das fogueiras e festas organizadas para comemorar a vitória do Bussaco, a pouca população que ficou assiste á chegada da cavalaria de Montbrum á ponte de Santa Clara, ainda a tempo de empurrar á cutilada alguns dos retardatários que fogem. A cidade fica abandonada á posse dos franceses que ensaiam uma rapina concertada aos supostos celeiros existentes no burgo, iniciando o roubo com marcas de ferocidade logo na freguesia de Eiras. As ordens dimanadas do comandante em chefe não são cumpridas e a politica de terra queimada do inglês dá lugar ao roubo do francês. As favas que paga sempre o inocente, recaem agora sobre os poucos habitantes que ficaram na cidade. Á maioria que seguiu o exército não cabe porém melhor sorte. Os caminhos são miseráveis, a lama que se começa rapidamente a amontoar é um obstáculo medonho, a fome começa a grassar enquanto a população em debandada se encolhe entre as colunas dos soldados em movimento ou atrás daquele macabro cortejo onde vivos, feridos e agonizantes se misturam e vão morrendo á mercê única da sorte de cada um.

E vão assim por Condeixa, Pombal, Leiria, e finalmente Alenquer já na entrada das Linhas, sempre acossados pela vanguarda dos franceses apostada em dificultar a vida e a caminhada de quem os procede no tabuleiro da guerra. O Bussaco ficava definitivamente atrás.

Encerramos o relato duma memória local sobre as invasões, sem deixar de agradecer a paciência dos leitores que nos leram bem como o estímulo recebido de alguns. Ao mesmo tempo, concluir dizendo que a vida no mosteiro continuou até 1834, ano em que foram extintas as ordens religiosas. A vida monástica tornou-se porém mais difícil, não só porque os muros levaram tempo a reparar, o que permitiu o acesso de outras pessoas estranhas ao local como pelo facto de passar a ser visitada por inúmeros participantes na luta, entre eles muitos ingleses, a quem os frades sempre prestaram auxilio, atenções e deram alojamento.

Depois da extinção da ordem, a Cerca foi praticamente abandonada pelo poder monárquico, só por milagre não foi vendida a terceiros mas invadida por autênticas romarias de gente das redondezas, em pouco tempo a maior parte do património foi destruído. Quanto ao servente Francisco, Francisco António, de seu nome verdadeiro, ainda em 1864 se mantinha como sacristão, cicerone e guardião da Mata. Sabia o que procurava guardar, não sabia porém para quem guardava. Sem família, era no cenóbio que encontrava o último laço duma existência também de eremita, com um zelo e uma eficiência que mereceu registos na época. Aqui deixo uma homenagem póstuma á sua memória, ao primeiro leigo conhecido que amou o Bussaco desinteressadamente, quando, talvez como agora, precisava de amigos para poder ressurgir. Então, como hoje, a devassa é a mesma! Mas amigos do Bussaco, este é sem dúvida, o primeiro de todos. FS

PS-A pedido de alguns leitores aqui deixo referidos alguns dos livros consultados durante a publicação destas crónicas relativas á batalha do Bussaco :

200 Anos da Guerra Peninsular, Exército Português; História Popular da Guerra Peninsular de Teixeira Botelho; Linhas de   Torres Vedras, de António Ventura; Guerra Peninsular 1801-1814;Batalha do Buçaco, Museu Militar; Buçaco, de Paulo Varela Gomes; Luso, no Tempo e na História ,Junta de Freguesia do Luso, O Tempo de Napoleão em Portugal, Comissão Portuguesa de História Militar, Bussaco, de G.L.Chambres; Bussaco 1810,Rene Chartrand; Portal da História ,Internet ;História de Portugal, Damião Peres; Dicionário de História de Portugal de Joel Serrão; Inventário Artístico de Portugal, Aveiro; História de Portugal de Oliveira Martins; História de Portugal de Oliveira  Marques; O Bussaco, de Silva Matos e Lopes Mendes; Guia Histórico do Bussaco, de Simões de Castro ; A História de Portugal, Jose Matoso;História de Portugal , de Rui Ramos ; Crónica dos Carmelitas Descalços; Memórias de Massena, de General Koch; A campanha de Portugal de A. Guingret; D.Maria I , de Luís Olivª Ramos; D.João VI , de Jorge Pedreira e Fernando Costa; História Geral Invasões Francesas, de Acursio Neves; O Combate do Côa , de Gabriel Santos ; A batalha do Bussaco de Brito Limpo; A Guerra Peninsular, de Pinheiro Chagas;Memórias do Bussaco de Adrião Forjaz de Sampaio.

Agradeço ao meu amigo querido Carlos Ferraz o material que me forneceu durante a elaboração dos artigos e ao Jornal da Mealhada pela disponibilidade da sua publicação. 

  

22
Out10

BATALHA BUSSACO-3ª INV. FRADES-10


Peter

 

 

                   FRADES

 

Confusa e de certo modo alheia á trama que se desenrola á sua volta pois só lhe ouvem o som, a comunidade carmelita que deixamos reunida junto á Senhora do Leite, ou do suposto quadro de Josefa de Óbidos se assim se preferir, decide preparar a livraria para a eventualidade de receber alguns evacuados da luta.

Atarefados nas breves arrumações, ouvem distintamente pouco tempo depois o trovejar de canhões para os lados de Stº António do Cântaro e mantêm-se silenciosos e expectantes ainda que sobre forte pressão nervosa e alguma desorientação. Wellington garantiu-lhes na noite anterior uma segura evacuação para Coimbra em caso de perigo, mas isso parece não bastar para os manter sossegados, enquanto o ribombar do bronze da artilharia vai subindo de tom, ás vezes troando longe, outras mais perto, outras ainda a intervalos, alongando-se no tempo e distanciando-se no espaço como se decorresse em diferentes locais e em permanente mudança. Depois deixam aturdidos a igreja e alguns deles, os de melhor sustentação física sobretudo, vão procurar na serra o trabalho de auxilio a que se propuseram, não sabem muito bem o quê, mas há sempre esse humanitário objectivo à mão das congregações religiosas, que tem a ver com o conforto do corpo e o aconchego das almas de quem precisa. Com as prováveis feridas e a extrema-unção na bagagem voluntaria, distribuíram entre si alguns nacos de boroa que meteram nos bolsos escondidos nas largas vestes e aos pares e trios diversificaram os caminhos.

O mosteiro ficou praticamente entregue a Frei António dos Anjos, também oficial da dispensa e a Francisco, nomeado pelo prior para lhe prestar ajuda. O rapaz, ao tempo que se maravilha com os apetrechos da tropa, já um soldado o quisera ensinar a disparar o engatilhado cão da espingarda a troco duma mão cheia de espigas de milho, e com todo o arraial consequente, anda desorientado, pouco afoito e à rédea solta. Frei António mandou-lhe ter o olho permanente na fechadura da adega e na arrecadação dos bens, onde mantém escondidas algumas barricas de sardinha, um pouco de milho e uma pia de azeite que são o governo do mosteiro. Incumbiu-o de pronto alarme caso veja perigar estes haveres, única garantia real, apesar de parca, da sobrevivência dele próprio e dos irmão, mas com a saída da quase totalidade do clã militar das imediações, o perigo diminuiu e se reside em alguém é  em alguns civis que por aqui passam a caminho dos teatros dos sucessos. Armados e desarmados.

  Frei Geónimo do Sacramento e o irmão Silvestre, cronista de serviço ao convento, já estão fora do átrio do mosteiro e observam os poucos soldados que manuseiam no terreiro da portaria, pólvora e munições. É uma montanha de material trazida para ali em dezenas de carroças, tratado e posteriormente distribuído pelas unidades da serra.

Duas das derradeiras cargas saem na direcção da Porta de Sula e os dois frades acompanham o pequeno cortejo. As rodas chiam enterradas no pó da íngreme subida que começa à direita depois que acaba o pátio das traseiras. Os soldados gritam incentivando as mulas e espicaçando-as brutalmente com as pontas das baionetas até se verem umas gotas de sangue a escorrer pelas ancas. Outros, enervados com a lentidão dos animais vergados ao peso da carga e da rampa de S. Silvestre dão-lhe coronhadas sem cerimónias à medida que avançam e é cada vez mais nítido o troar da artilharia á mistura com disparos de armas ligeiras cujo som parece vir de todos os lados. Ao tanque da nascente os dois frades deixam os carroções entregues à brutalidade dos guardas costas e viram à esquerda na direcção da Porta da Rainha recentemente desentaipada. Quando atingem a Capela das Almas já fora do muro , encontram um grupo de franceses em estado lastimoso. São dos primeiros frutos da batalha. Um deles tem o nariz e o pescoço esfacelados por uma bala e expele entre coágulos de sangue sons incompreensíveis. Dois outros, caídos na beira do caminho,  consomem gemendo o que lhes resta de vida antes de chegarem ao improvisado hospital. Ali ficam inertes encostados ao talude seco da estrada. Soldados ingleses e alguns paisanos acendem uma pequena fogueira por misericórdia e colocam os desgraçados em redor dela. Têm frio e gemem por uma morte breve. Os dois frades aconchegam-nos com duas mantas velhas e debruçam-se sobre eles em rezas e orações, mas os infelizes não dão acordo de si. Pedem água e alguns, em agonia ,gritam pelo consolo definitivo dum golpe de misericórdia. Passam mais uma dezena de estropiados antecedendo uma carroça militar dirigida por um maqueiro inglês. Outros irmãos entretanto chegados põem-lhe a mão já próximo do hospital, empurram o transporte ao tempo que se dirigem a eles com santíssimas palavras que não produzem efeito. Ninguém espera bênçãos divinas em horas de aflição.

Os dois primeiros frades dão meia volta , voltam atrás e sobem rente ao muro  da Cerca em direcção à Porta de Sula onde os combates estão acesos  com os franceses , que  quase atingiram a paliçada de rolos de carvalho ali montada se batem pela conquista duma posição sustentada. É a Divisão Marchand procurando repetidamente conquistar o terreno à qual responde energicamente a Brigada Portuguesa Pack constituída pela Infantaria 1 e 16 e pelo 4 de Caçadores que aguentam com valentia o assalto e tentam colocar em fuga as colunas francesas. Infantes e caçadores descarregaram sobre eles com tanta intensidade que  as primeiras filas são dizimadas e os frades que inadvertidamente sobem por ali perto  escutam os gritos e gemidos dos que tombam. Um oficial grita-lhes para que se retirem e se aproximem do muro. Correm embrulhados na espessura das vestes até que dois soldados se destacam dos atiradores e os puxam como fardos por uma abertura feita no muro. Ficam surpresos e atónitos mas continuam da parte de dentro a exploração. Por cima das suas cabeças e silvando na ramaria da vegetação passam alguns inofensivos projecteis vindos de fora enquanto a Brigada Pack , agora apoiada por três baterias inglesas executa uma carga á baioneta que põe Marchand em debandada encosta abaixo. Os de cima ficam aliviados e preparam-se para uma segunda defesa que não virá.

Ultrapassada a porta, dão-se os irmãos conta do novo caminho militar aberto pelo interior até às portas do telégrafo e atingindo o planalto encontram um segundo e rudimentar hospital onde se prestam os primeiros socorros às vitimas que se encontram na parte mais alta da serra. É uma mesa comprida feita de tábuas aplainadas onde são estendidos os corpos e analisados por cirurgiões de mangas arregaçadas. Nos casos mais graves a exigir cortes de membros, amarram os doentes com largas correias de couro, encharcam-lhes a boca de aguardente e serram a sangue frio uma perna ou um braço. A vitima contorce-se, grita e mas acaba por ceder à força bruta, esvair-se em sangue e sossegar por fim.

São quase todos feridos do assalto de Santo António do Cântaro que vão chegando em carroças vagarosas por improvisados caminhos com o apoio de enfermeiros e maqueiros.

Do cirurgião António Teixeira que iniciou a sua carreira no improvisado hospital de sangue da Capela do Encarnadouro a 27 de Setembro de 1810 e faleceu em 28 de Fevereiro de 1873 como cirurgião-mor depois de fazer toda a campanha  do Bussaco até Bayona  em perseguição do exército francês , são as seguintes palavras quando se refere aos horrores  duma batalha … montes de cadáveres, charcos de sangue, mutilações horríveis, agonias violentas , em suma, a morte nas suas estupendas manifestações .

Os irmãos, não suportando o sofrimento físico á vista e verificando a ineficácia da consolação religiosa abandonam depois estes deserdados da sorte e descendo pela capela de S. João Batista regressam ao convento.

Neste trajecto lembram-se dos bocados de borôa guardadas de manhã nas profundezas do hábito e sem dizerem palavra um ao outro vão-lhe roendo as côdeas sem manifestações de apetite. A tarde, que não demora nestes dias finais do mês de Setembro, estende-se até ao oceano atlântico que se vê brilhar no horizonte crepuscular, laranja e branco como fio de pérolas levemente cintilantes.

 Quando chegam finalmente ao convento num lusco-fusco súbito, dão-se conta que os espera uma mulher num burro e um general blindado à volta do pescoço. Com eles está Francisco, desorientado pelos acontecimentos do dia e pasmado perante a beleza de Geraldine, uma rapariga maravilhosa como nunca vira antes na vida. È do seu alojamento que vão tratar em seguida. No olival , onde mandara abrir covas para enterrar os mortos, o Superior  murmurava as orações fúnebres umas atrás das outras e procedia á encomenda das almas conforme iam chegando corpos ou morrendo os moribundos que se espalhavam  em   redor. Quando a noite caiu definitivamente, os gemidos rasgaram o silêncio com mais força  a espaços que se foram alongando  cada vez mais, os gritos de raiva e estertor  fragilizaram-se na fraqueza das forças, até que um manto de leve neblina surgiu do arvoredo  e  se espalhou sobre  o convento  escondendo e abafando simultaneamente  os sons  e o sofrimento dos desgraçados em agonia.

19
Set10

BATALHA BUSSACO-3ª INV.FRADES -9


Peter

 

                                                                                                              

 A GUERRA DOS MONGES

 

 A manhã de 27 foi para os resignados monges de Santa Cruz do Bussaco de delapidação total das regras conventuais. Instalados na sua maioria no refeitório situado no extremo norte do Convento, os frades levantaram-se cedo, mal o general, eram quatro horas da manhã, saía com o seu séquito de ajudantes a demandar pela serra a disposição do exército e a perscrutar o disperso bivaque francês pelo longo binóculo que lhe chegava o adjunto a cada solicitação. Já os frades reunidos á volta da cruz central do dito refeitório, toda ela forrada a cortiça, iniciam as demoradas matinas com cantos e sacrifícios onde a autoflagelação era coisa comum. É uma sala grande a das comidas, mais comprida que larga e mais alta que as oficinas, as celas ou a própria livraria. Humilde, também forrada a cortiça tal como a cruz, janelas e portas, é ali que os monges se reunem á volta duma mesa de madeira, comprida, frugal e pobre.

Ao mesmo tempo que dão alívio ao estômago, conforme vão acabando as suas refeições, alguns deles encostam o corpo á grande cruz no meio da sala, abrem os braços como crucificados numa figuração de Cristo, o seu orago, e assim permanecem em silêncio ou a  chicoterar-se a si próprios expiando deste modo o pecado de ter comido. Em muitos dias comem no chão ajoelhados aos pares ou em trios. Colocam sobre a cabeça coroas de espinhos, vendam os olhos com largas faixas de pano preto, sorvem de mordaças que seguram na boca, entre os lábios, mistelas envinagradas e azedas. Não raro, em muitas ocasiões, carregam pesadas cruzes de madeira ou colocam sobre o dorso uma pesada albarda de asino, expiando desta estranha forma as culpas e os pecados cometidos.

Mesmo nestes dias de bulício militar, mais ou menos escondidos dos olhares curiosos de oficiais que passam oriundos das celas ocupadas, procuram mortificar-se o melhor, ou  o pior que podem , sendo o sacrifício mais comum  chicotadas nas lombares até a um rasgo de sangue assomar  na sua vermelhidão. Então cessam a cerimónia, tapam a ferida com o surrobeco do hábito e vão à sua vida. Regra geral desde a chegada do general tem-se moderado nos tormentos destes alívios de alma e a oração tem sido a principal mais valia obtida em favor do céu. O coro diário e o silêncio, contrastando com a balbúrdia instalada em toda a cerca, são onde passam o resto do tempo da penitência.

Ás quatro da manhã de 27 enxerga-se mal. Na prática é noite ainda. Acendem círios e velas trazidas da dispensa onde conservavam grande quantidade e ao passarem lentamente em frente de portas e janelas parecem sombras fantasmagóricas denunciando um culto iniciático macabro sob o esticado capuz de burel da vestimenta, ritmado no intervalo de cada passagem breve.

É pelo romper estrondoso do silêncio habitual no ermitério que dão conta da estranheza da manhã. Ainda que de longe, chegam ecos, sons dum outro mundo que lhes é diferente mas não indiferente, até aromas, enviados pela ligeireza duma brisa que lhes fere a pureza habitual dos odores da solidão cujos bálsamos, oriundos da própria natureza em sopros leves de brisa ou ventanias medonhas, conhecem bem. Hoje, quando o alvor da manhã

clarear em definitivo ,talvez bruscos e incómodos, os ruídos hão-de aumentar, os sons bailarão de direcção em direcção   e nas salas humildes forradas a cortiça penetrarão o medo e as vibrações assustadoras do troar dos canhões juntamente com  o cheiro  fresco da  pólvora que inundará as redondezas do mosteiro. È o que presumidamente pensarão estes eremitas, crentes ingénuos à medida do seu tempo, mas familiarizados com um mundo de injustiças, de violência e de guerras que conhecem bem. Permanecem um ano no refúgio para curar feridas destes desmandos mundanos, frequentemente dos seus próprios erros e exageros, na esperança dum perdão o mais tarde possível. No fim do tempo , cumpridas celas e ermo voltarão supostamente limpos e reconfortados aos malefícios da vida , depois desta limpeza intensiva dos problemas da  alma.

 Acabam orações e sacrifícios da fraca refeição e reúnem-se na igreja, o centro físico e coração do mosteiro. È um templo pequeno, cruciforme, humilde como as regras dos descalços e fechado por inteiro no interior do convento, envolvido em toda a volta pelos corredores das minúsculas celas. Não são todas assim todas as igrejas dos Descalços, mas esta é das primeiras a assumir uma arquitectura fidelizada depois da mais famosa de todas, em Batuecas nos confins de Salamanca.

 Não há riquezas à vista, banido o ouro e a prata o luxo passa pelo altar mor com um  Cristo crucificado gozando das companhias laterais  de  José , o carpinteiro,  e  Santa Teresa.  Ao fundo e separando a igreja do coro de dois degraus, um pitoresco presépio  reúne muitos figurantes à volta da manjedoura e do outro lado, em frente, olha embevecida a imagem discreta da Srª do Carmo. De realce, dum e doutro lado do altar, estão ainda duas figuras originárias dum desconhecido artista italiano, as figuras em barro de Madalena e do apóstolo Pedro. Talvez o que de mais rico possui o templo, não pelo valor intrínseco do material, mas pela expressão realista e sofredora dos actores representados. Pedro, a trair o seu mestre, Madalena, ainda jovem, expressando constrangido o fim dum amor divino. Resignada, tal como a figura barroca da Senhora do Leite numa tela datada de 1664 da autoria de Josefa de Óbidos e pendurada á direita, junto ao coro. È ali, sob o olhar materno dos leitosos seios que os frades se juntam a adivinhar o dia.

 Enquanto isto, Wellington faz um périplo á volta das suas tropas estacionadas ao longo do cume por onde corre um manto de nevoeiro matinal. Adivinhar o que se passa em baixo é a aposta mais certeira, além da tentativa de discernir entre o silêncio algo que seja diferente do fundo costumado. Sessenta mil homens armados para lá do horizonte visível falam sem dizer nada. Para lá dos sons, o ar, as ondas de calor e frio, não as de rádio que ainda não estavam descobertas, propagavam-se a instantes, o cheiro impregnava-se de cambiantes estranhos, alguns mesmo prenúncios vazios da ânsia e do medo espalhados em redor ou no silêncio dos homens esperando. A passarada, ainda que proibida por bula do papa Urbano, habita as frondosas árvores dentro da Cerca , mas também essa está calada e os galos madrugadores, ainda que o pudessem fazer, foram cozinhados por tanta gente com fome.

A expectativa é grande, o receio também, a tensão agiganta-se com o madrugar da noite. Os sinais, para militares experientes são reconhecíveis, mas não o são assim familiares para o recruta português saído da reorganização de Beresford , que  pela primeira vez vai demonstrar em combate a sua capacidade e valor, uma estreia tão imponderável como absoluta que faz tremer o comando inglês como varas verdes. Vai pertencer a estes homens mal vestidos, mal armados e mal calçados, a expensas do governo inglês, o pendor dos resultados, daí as preocupações do lado britânico.

A manhã rompe dificilmente a neblina cerrada que se prolonga desde o nascer do sol impondo segredo montanha acima não se sabe por quanto tempo. Veremos que há-de descer ao contrário lentamente, primeiro rompida pelo sol nas partes altas, depois mais rapidamente a mostrar o conteúdo total da receosa paisagem liberta de sombras e assombrações, substituída dum momento por uma vaga de soldados que hão-de surgir prontos e escanhoados a trepar a montanha.

Para o comandante, que espera o desenrolar da acção no seu posto de comando, a batalha chega assim inesperadamente. Não faz parte de qualquer estratégia previamente concebida nem de planos arquitectados com objectivo e pormenores. A luta, se acabar por acontecer, é mais fruto do acaso que de outra coisa qualquer mas é evidente que esta situação acidentalmente vantajosa o obriga na prática a receber o corpo imperial de armas em punho, tão grandes são os trunfos que a sorte, como numa mesa de pocker, lhe coloca nas mãos. Observa, corrige, encoraja e aguarda confiante o levantar do dia quando surgem das profundezas dos vales que vão do Cerquedo à ribeira de Aveledo e ao rio Mondego os comandados de Reynier.

 

 

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