ERMIDAS
Peter
Três romeiros ( o do meio senhora)apoiadosem varapaus, descansam da jornada.
As duas imagens representadas nos postais, uma a preto e
branco, outra toscamente pintada á mão assinando a sua
antiguidade, dizem respeitam á Ermida do Calvário
no fim da Via-Sacra do Buçaco. Situadas a meio da encosta
entre o Convento e a Cruz Alta sobre um agregado de
imponentes rochedos, delas se alonga a vista até ao Oceano,
ao Caramulo, á Estrela.
Diz o poeta J.F.de Serpa:
Surgindo majestoso d’entre as cúpulas
D’altos annosos cedros,
Como das crespas ondas se alevanta
Rochedo colossal co’o pé no abismo
E co’a fronte nas nuvens
Mandada construir por D.João de Melo, Bispo e Conde
de Coimbra, foi a Ermida consagrada pelo próprio fundador
em 3 de Outubro de 1694. O oratório sextavado, era dotado
de várias pinturas, entre elas a dum Cristo crucificado
executado por um leigo do deserto da Arrábida e oferecida
pelo Bispo depois de transportado em procissão na solene
cerimónia desse mesmo dia.
Acompanhado de toda a comunidade saiu o bispo conde do
convento percorrendo os passos da Via Crucis estação a estação.
Chegados á nova ermida benzeu o Oratório onde disse
a primeira missa e depositou a sugestiva imagem.
Na parte traseira deste oratório há um mirante formado
por um corredor entremeado de ameias que acompanha
exteriormente a construção, local onde se encontra uma
cisterna que recebia águas pluviais para consumo na ermida.
Em frente, no abismo sobre a serra, quase se sobrevoa a
exuberante vegetação que desliza em harmonia silenciosa
pelos limites do cenóbio e ultrapassando-os largamente na
grandiosidade da paisagem.
Recorremos á rima de Miguel Osório Cabral
para sublinhar a opulência da visão:
Vejo o convento estar na falda assente
Vejo d’alta lameda a verde cima,
E os verdes pavilhões, que as nuvens tocam,
Vejo dobrar a fronte.
E muda-se o matiz de folha a folha,
E tremula a ramada-o sol lampeja
De varia cor se rasga a olhos ávidos
Estranho,ignoto quadro.